viernes, 6 de julio de 2018

POEMAS (português)

POEMAS (português)

© Juan Martín Ruiz





ASTRO PERDIDO

Espelha o esplendor de um astro amado,
A lua, que a sua pura luz reteve;
Parece relembrar a brisa leve,
A brisa de um amor recém-chegado.

Parece recobrar esse legado
De um sol cujo calor fundiu a neve.
Com raios de ilusão e instante breve,
Cintila num fulgor ressuscitado.

Parece tal fulgor coisa vivida,
Parecem idos gozos que eu sentia
Numa outra dimensão, numa outra vida.

Mas seja como for, neste momento,
Bate o meu coração como batia,
Despido de pesar e sofrimento.

VENTO, CANÇÃO E MUDANÇA

Qual é o meu maior sustento?
O vento.
Minha grande inspiração?
Canção.
E a minha grande esperança?
Mudança.
É assim como o meu ser dança
Por entre campos de bruma,
Neste sonho que perfuma
Vento, canção e mudança.

LÁGRIMAS

Poeta que andas sonhando
Com o teu mundo perdido,
O teu canto vai mostrando
Teu coração malferido.

Morreram os que te amavam,
também as horas felizes,
O que os teus sonhos criavam,
Mas ficaram tuas raízes.

Ficam suspensos amores,
Antigas fotografias,
Luminosos resplendores
E sonhadas melodias.

As lágrimas vão nublando
As imagens e a razão,
Enquanto andas esperando
A luz da tua salvação.

TRISTEZA SEM FIM

Leva o rio profundo
A palavra tão leve,
A do tempo de outrora,
A do instante tão breve.

Quanto sonho que nasce
De passados momentos!
Quanta ausência que cria
Os mais duros tormentos!

A ilusão vai criando
O que não vai voltar,
A fragrância de outrora
Que fugiu pelo ar,

O que nunca regressa,
O que foi e não será,
O que estando já morto
Nunca mais morrerá.

FADO

Eu gosto muito de ti,
Do teu jeito de me amar,
Pois nem pude imaginar
Um amor cheio de encanto
Que pudesse me dar tanto
Carinho e gozo sem-par.

És uma garota linda,
Mais bonita do que aquela
Que na praia de Ipanema
O seu corpo balançava.
Teu amor que nunca acaba
É a minha cançao mais bela.

É por isso que eu te canto
Este fado que é só teu.
Foi Cupido quem me deu,
Pra o fazer, a inspiração,
Pois flechou meu coração
Sua seta que joga ao léu.

RARA MELODIA

O passo leve deste doce vento
Abre a porta secreta doutro mundo.
De encanto e de ilusão o cetro ostento,
E o novo despertar, vivo e profundo.
Quem viu o poder da dor e do lamento,
Quem habita esse chão infecundo,
Conhece a voz da rara melodia
Que faz ressuscitar toda alegria!

NAUFRÁGIO

Tanto pesar o fado me depara
Que faz brotar o pranto dos meus olhos,
Ao evocar a mais linda alvorada,
Neste penar, neste meu mar de abrolhos.

De âmbar e azul reluz toda a memória
Pelos umbrais do meu anoitecer,
Onde se oculta toda aquela história
Que uma alvorada outrora viu nascer.

Alvor de arminho nos meus doces dias,
E quando a neve de algodão ornava
A terra do jardim do amado lar.

Sonhos sem fim nas claras melodias
Daqueles universos que habitava
Antes do meu terrível naufragar.

CANÇÃO DE AMOR

Amo-te tanto, meu bem!
Com delírio é que te chamo!
Teu olhar em ondas vem!
Por teu amor canto e clamo!

Fico todo estremecido
Com a luz do teu olhar,
Sou um naufrago perdido
Pelas ondas do luar.

Foi com asas de esperança
Que o meu coração abri,
Pois a minha fé descansa
Neste meu amor por ti.

Te amar é o meu delírio!
Te amar é o meu pecado!
Te amar é o meu martírio!
De te amar nasce o meu fado!

Sem ti já não há mais sonho,
Sem ti já não há mais vida,
Sem ti já não mais componho
Minha canção mais querida!

PERDIDO PELOS ESPAÇOS

Quem saberá do meu canto
Que nas saudades navega?
Ó minha dor, ó meu pranto:
Tormento que aos olhos cega!

Ó meu lindo amor sonhado,
Ó miragem fugidia
Desse meu Sol esperado,
Desse claro novo dia!

Onde estás que não te vejo,
Ó meu novo amanhecer!
Ó flores do meu desejo
Que não sabem florescer!

Sou o navio sem mastros
Da minha vida em pedaços,
Vou pela estrada dos astros,
Perdido pelos espaços!

ANDO TRISTE

Ando triste neste mundo,
Com saudades d’outra vida,
Moro neste mar profundo
Da minha dita perdida!

Ando cansado e vencido,
Relembrando aquelas horas:
Meu paraíso perdido,
Meus fantásticos outroras!

Eu vivo pois convencido
De não poder regressar,
Nem ao meu mundo perdido
Nem ao meu amado lar.

Minha magoa não tem fim,
Nem minha dor, lacerante,
Que toma conta de mim
Em qualquer lugar e instante.

ROSA TÍMIDA E FUGAZ

Às vezes sinto que torna
Aquele gozo perdido,
E o meu canto se transforma
Num roseiral bem florido.

Rosa tímida e fugaz,
Esta da canção tão minha,
Quem à tristeza desfaz
No feitiço da tardinha;

Tomara que o teu perfume
Vire mágica romança,
E iumine com seu lume
Os meus versos de esperança.

Às vezes sonho, levado
Por ventos de fantasia,
Que nos versos do meu fado
Tornará minha alegria!

ANDO...

Ando sempre a procurar
O amor que me redima
Deste meu triste penar
Que me fere e me lastima.

Ando a procura do sonho
Que anela o meu coração,
Nas florestas que componho
Com fragrâncias de ilusão. 

Ando de ti à procura,
Que és a flor do meu anelo,
Que andas desvendando a bruma,
A luz negra do meu duelo.

Ando inquieto e lastimado
Pelas varandas da vida
Procurando o ser amado
E a minh’alma renascida!

QUANDO VOLTARÁS

De um céu arvorado
Com molhos de estrelas,
Eu guardo de ti
As rosas mais belas;

As lindas rosas perdidas,
Que inda brotam, novamente,
Como brotam as saudades
Neste meu peito carente.

Quando voltarás,
Meu amor perdido!
Tua falta é quem faz
De mim um mendigo,
Que anda e andará
De ausências ungido!

OH, MEU AMOR...

Oh, meu Amor, meu Amor!
Você já não mora em mim,
Apenas mora esta dor,
Esta dor que não tem fim.

Sem ti vivo amargurado
Nesta vida fugidia,
E só canto o triste fado
Que desconhece a alegria.

Mesmo assim, mesmo perdido,
Guardo no meu coração
Aquele sonho querido
Aquela imensa paixão!

Quando me lembro de ti
A saudade me tortura,
Sinto o que sempre senti:
O amor que inda perdura!

FLORES

O vaso das margaridas
Foi colocado no chão.
São flores muito instruídas
Dizem se é sim ou se é não!

O vaso das violetas
Foi na mesa colocado,
São pequeninas, inquietas,
Deixam tudo perfumado.

A linda, vermelha rosa,
A mais formosa que vi,
Tão sensual e cheirosa,
É a que guardo para ti!

Rosa branca como a lua
Desta paixão encantada,
Tu és minha e eu sou tua,
Oh minha rosa adorada!

SOU...

Sou apenas um homem que pela vida passa,
Como passam os dias, como passam as horas,
Como a cinza que foge e a dispersa fumaça;
Sou um eco distante de dourados outroras,

Sou um ente vencido que perdeu a ilusão,
Que nos versos escreve como foi que sumiu
A esperança sentida pelo seu coração,
A sua música amada que já nunca se ouviu.

Sou um ser que navega pelos mares do sonho,
Que perdera o seu lar, seu semblante risonho,
E que vive a lembrar os momentos de outrora;

Quem anseia sem pausa a sua rosa perdida,
Seu jardim encantado, sua fragrância querida,
E o fulgor da esperança na sua última aurora.

ROSA TORTURADA

Apenas breves instantes
Que boiam na Eternidade:
Ó meus clarões fulgurantes!
Ó minha enorme Saudade!

Inda sinto a vibração
Dessa manhã perfumada,
Da minha bela canção
Toda de luz orvalhada.

Ainda ouço o chafariz
Do meu jardim encantado,
Daquele mundo feliz
Todo de dita regado.

Por esses mundos perdidos
Em que o mistério navega,
Dançam os galhos floridos
Da perdida primavera.

Linda rosa torturada
Que não paras de nascer,
Dentre os tormentos alçada,
Sempre queres florescer!

SONHO

À espera dum alguém que não existe
Anda o meu coração, tão magoado.
Banido e lacerado ele inda insiste
No sonho de encontrar o ser amado!

GUITARRA

Já não sou o que era dantes,
Mas as estrelas do céu
Iluminam os instantes
Daquele amor que morreu!

Ó tu, guitarra querida,
Trinos de puro cristal,
lágrima no céu vertida
que desce pelo luar!

Já não sou o que era dantes
Mas tu, guitarra que choras,
Lembras-me os tempos triunfantes,
Lembras-me as felizes horas.

Vibram as cordas da alma
com teu sincero gemido,
Teu puro trinar acalma
O meu coração ferido!

FADO FEITIÇO

Se sentes amor por mim,
Se de ti eu gosto tanto,
Porque ficamos assim,
Presos neste mudo encanto?

Se te amo e nada digo,
Se calas o teu amor,
Porque quero estar contigo?
Porque calmas minha dor?

Talvez seja por piedade,
Ou por não estar sozinhos,
Que o meu abraço te agrade,
Que me dês os teus carinhos!

Este amor não confessado
É a mais bela canção:
Os versos lindos dum fado
Que enfeitiça o coração!

ABELHINHA AMARGURADA

Minha querida abelhinha,
Gosto muito de você!
Tu és formosa e bonitinha,
E libas, pelas florzinhas,
O pólen do doce mel!

Mas agora, pobrezinha,
Andas furiosa e zangada,
E até pareces mazinha;
Pois eu vi que você vinha
Pra fazer uma picada!

Sei da tua paixão ardente,
Minha prezada abelhinha.
Sei que o zangão, indolente,
Enganador, indecente,
Te traiu com a rainha!

E picas, amargurada,
Por causa da vil traição.
Porque julgando-te amada,
Recebeste a ferroada
No fundo do coração!

Mas tu sabes, minha flor,
Minha querida abelhinha,
Que hás de esquecer essa dor,
Porque anseio o teu amor,
Porque tu és minha rainha!

QUANDO VOLTARÁS

De um céu arvorado
Com molhos de estrelas,
Eu guardo de ti
As rosas mais belas;

As lindas rosas perdidas,
Que inda brotam, novamente,
Como brotam as saudades
Neste meu peito carente.

Quando voltarás,
Meu amor perdido!
Tua falta é quem faz
De mim um mendigo,
Que anda e andará

De ausências ungido!

DANÇA

Dançava sua dança aérea,
Tão subtil e tão etérea,
O pequeno beija flor.
Prossegue sua dança agora
Aquela vida de outrora,
Aquele morto esplendor.

Pela floresta dançavam
Os pirilampos que amavam
As noites para brilhar.
E continua essa dança,
Iluminado a esperança
Do sonho de regressar.

Ao som de velhas cantigas,
-Vozes mágicas e amigas-
Bailam as recordações.
O vento é que vai levando
Tudo quanto vou lembrando
Daqueles velhos serões.

Dançam momentos gloriosos,
Da cerração, vitoriosos,
Neste doce relembrar.
Dulçor que tortura agora,
Vendo que a saudade aflora
E não a posso matar!

ALGO HÁ DENTRO DE MIM

Algo há dentro de mim que me tortura.
Medo de me perder nalguma estrada,
Medo de não haver mais madrugada,
E enfim de não ter mais que desventura.

É o medo que se alastra e que coíbe,
E faz que se desmanche até a esperança,
Que perca a lucidez duma criança,
Do pássaro, o trinar com que ele vive.

Não sei como fugir deste tormento,
Deste amargo penar, deste lamento,
Pois naufragou a nau que me levava

Ao mundo que foi meu numa outra era,
Ao sonho duma eterna primavera,
E ao mágico luar que me extasiava!

FADO COELHINHO

Da minha aberta janela
Via a luz da minha estrela
Que ignota sorte me dava.
E depois de despertar,
Os recantos do meu lar
E tudo quanto eu amava.

Como todos fui criança
E nessa mágica dança
Boiam as minhas saudades.
Então nem imaginava
O que afinal me esperava:
Tanta dor, tantos pesares.

As letras ia aprendendo,
E aos poucos entendendo
Aquilo que escrito estava
Num ilustrado continho,
Colorido e bonitinho
Dum orelhudo coelhinho
Que na floresta morava.

Guardo o conto na memória
Pois naquela linda história
Onde coelhinhos pulavam,
Aquelas letras se uniam
Pra saber o que diziam,
Pois também eles falavam!

TUDO PASSA

Os meus olhos se iluminam,
Da sua luz, quando ela passa!
O seu jeito feiticeiro
Espaço e tempo ultrapassa!

Passou toda pela rua,
A minha felicidade.
Passou quanto mais queria
E tudo quanto é verdade!

Passaram esses momentos
Que eram feitos de alegria,
Passou a luz dos seus olhos
Que mais que o sol refulgia,

E as ondas dos seus cabelos,
Obscuras como as do mar,
Quando cintilam estrelas,
Quando não beija o luar!

Passou tudo um certo dia.
Toda minha dita é finda,
Mas o coração, teimoso,
Sonha com voltar, ainda!

A ROSINHA E O CRAVO

A rosinha, perfumada,
Desposou um cravo bonito.
É boazinha e comportada,
Mas tem um pesar aflito;

Pois o marido, safado,
Diz gracinhas a qualquer
Rosinha que cante o fado
E não liga pra a mulher.

Muito sofria a florzinha
Com o malandro do esposo,
Pela conduta que tinha,
Além de ser preguiçoso.

Decidiu abandonar
Esse cravo que não presta.
Com outro foi se casar
Lá no meio da floresta.

É muito feliz agora
Com o novo ser amado:
Ele a estima e adora
E alem disso, canta o fado!

FLORESCER

Eu canto na noite escura
Uma canção esquecida,
Brilhando está na luz pura
Da mocidade perdida:

Nesta noite brilha tanto,
Com lágrimas de luar!
Chora de pena e espanto
Pois não pode regressar!

Oh minha luz desterrada,
O minha velha canção, 
Flor perdida e tão amada
Que perfuma o coração!

Flor que espera a madrugada
Nesta minha noite infinda,
Flor perdida e enjeitada:
Sonhas florescer ainda?

BARCA QUE NAUFRAGA

Olha os meus olhos, Amor.
Não fanes tão linda flor!
Ai, não tinjas de martírio
Esse nosso branco lírio
Que nasceu do nosso amor!

Não partas nunca de mim,
Morreria vivendo assim,
Separado dos teus braços,
Separados nossos passos
Pelos caminhos sem fim!

Sou barca que naufraga,
Clarão que afinal se apaga.
Nesta vida fugidia
Sem teu amor eu seria
Alma sem fé que desaba!

NADA SOU

Nada sou, eu não sou nada,
Nada sou longe de ti.
Uma sombra malfadada
É quanto resta de mim.

Vida que é apenas saudade
Daquilo que já não volta.
Oh, meu Deus, quanta ansiedade,
Quanta tortura anda à solta!

Quanto vai durar ainda
Esta angustia que não cessa,
Esta minha pena infinda,
Esta dor que tanto pesa.

Vejo as nuvens, lá no céu,
Como, à tardinha, elas passam.
Sopram os ventos ao léu,
Fica em mim minha desgraça.

Sopra uma aragem que encanta
A este coração aflito.
Parece que não é tanta
Esta imensa dor que cito.

Sopra, sim, mas fá-lo em vão,
Pois afinal nada muda:
Ilude ao meu coração,
Órfão de qualquer ventura.

JARDIM

Velho jardim! Oh flor dos meus sentidos!
De tempos enfeitados de fragrância:
Espelho que reflete a minha infância,
E os seres que finaram, tão queridos!

Oh meu jardim de amores verdejantes,
De rios pela chuva improvisados!
Nas noites estreladas, deslumbrantes,
Recantos misteriosos, encantados!

Quero voltar a ti, jardim perdido!
Nas noites de verão tu tens frescura
Onde há de florescer minha ventura!

Hei de tornar a ser uma criança
Que corre, brinca e pula entre os canteiros
Sem saber de saudade nem lembrança!

FUI CRIANÇA

Da minha aberta janela
Via a luz da minha estrela
Que a ignota sorte me deu.
E depois de despertar,
Os recantos do meu lar
E tudo quanto era meu.

Como todos fui criança,
E nessa mágica dança
Boiam as minhas saudades.
Então nem imaginava
O que afinal me esperava:
Tanta dor, tantos pesares. 

MAPA NATAL

Lá no meu mapa natal,
Que fizeram com cuidado,
Estava escrito que o fado
É a minha sina fatal!

Também minha vovozinha
Descobriu os meus valores:
Pelo fado, os meus amores,
quando era menino ainda!

Adoro a minha guitarra.
Mesmo tocando de ouvido
Meus acordes têm sentido,
E canto qual a cigarra!

Meu sucesso em qualquer farra
É uma coisa garantida,
Pois no fado ponho a vida,
Pois tenho talento e garra!

Quando canto ao desafio
Ficam todos admirados,
Ao meu engenho entregados
Durante horas a fio!

Na Alfama e no Bairro Alto,
E também pelo Chiado,
Bebo vinho e canto o fado
E a nenhuma farra falto!

MOMENTOS

Há momentos nesta vida
Que mudam a faz do mundo:
Existe a canção querida,
Existe o tempo fecundo!

Existe a lágrima à toa
Pela faz do sentimento,
E aquela cançao que ecoa,
tão profundo, tão adentro.

Existem tantas lembranças
Que brotam do coração,
E até vagas esperanças,
Mas esperanças em vão.

Ai, este vento da vida,
Que passa e que não retorna!
É uma rosa fenecida
Que inda seu perfume entorna!

CARMENCITA

Carmencita, minha vida!
Carmencita, minha Flor!
Anda minh’alma ferida
Pois não tenho o teu amor!

Carmencita, Carmencita,
Eu já não posso te ver,
Minh’alma te necessita,
Sem ti não posso viver!

Tristes, as lágrimas brotam.
Não estás ao pé de mim.
Todos meus sonhos te evocam.
Não posso viver assim.

És a rosa florescida,
Estrela do meu anelo,
És minha Cármen querida,
A causa do meu desvelo!

Tua lembrança, tua visão,
São saudades, é tortura
Que fere o meu coração
Perdido na desventura!

Mas tenho enfim a certeza
-Carmencita, minha Flor,
Minha mais grande riqueza!-
De ganhar o teu amor.

NAS TABERNAS DO CHIADO

Nas tabernas do Chiado
Bebo vinho e canto o fado:
Sou um fadista famoso.
Em Lisboa não há ninguém
Que cante tão belo e bem
E que gere tanto gozo!

Minha Rosa do Alentejo,
Quando junto a ti me vejo
Sinto o que nunca senti!
Bebo o meu copo de vinho,
Canto o fado com carinho:
Oh, Meu Bem, ao pé de ti!

Minha Flor da Beira Alta:
Minha inspiração se exalta
Quando te vejo chegar!
Troco o meu bom moscatel
Pelos teus lábios de mel,
Canto o fado à beira mar!

ROSA DO MEU FADO

Minha bem amada,
Gosto de você!
Tu és a minha fada
Que ninguém mais vê!

Oh minha fadinha,
Minha linda flor,
No meu peito aninha
Este imenso amor!

Você é meiga e bela,
E com seu condão
Brilha a minha estrela
E o meu coração!

Nunca partas, não,
Meu amor sonhado!
Única canção,
Rosa do meu fado!

Nunca partas, não,
Minha musa amada!
Tu és a inspiração,
Sem ti não sou nada!

SEM AMOR NÃO CANTO O FADO

O meu Amor foi embora,
Por isso fiquei agora
Triste e tão amargurado.
Minha vida não é vida,
Desde o dia da sua partida
Já não canto mais o fado!

Eu era tão bom fadista,
Refinado e grande artista!
Mas quando meu bem fugiu
Fiquei jogado na lama,
Porque se ela não me ama
Fica o meu arte vazio!

Por isso é que a gente diz
Que todo artista ou atriz 
Há de ter um ser amado.
Vou procurar outro Amor:
Sem ele a vida é um horror,
Sem ele eu não canto o fado!

CANTO

Vou feliz e vou contente,
Vou cantando pela rua:
Canta a boca que pressente
Os beijos da boca tua!

Canta a Noite e canta a Lua,
Canta o coração que sente
Essa grande dita sua
De amar tão profundamente!

Canta enfim a Natureza,
Canta tudo em que acredito,
Canta o Sol que com certeza

Desvela o véu do infinito,
Canta assim toda a grandeza
Deste meu amor que grito!

TIMIDEZ

Nenhuma coisa  te digo
Por causa da timidez.
Trago no peito, comigo,
O imenso amor que não vês.

Eu fiquei por ti flechado,
Foi apenas de te olhar!
Fico todo transtornado
Quando te vejo passar!

Tu passas indiferente
E nem olhas para mim;
Fica na aragem, presente,
Teu aroma de alecrim.

Tudo é feitiço e perfume
Neste meu amor sentido,
Que incendiou, com vivo lume,
Meu coração malferido!

MEU JOÃOZINHO FOI EMBORA

Meu amor, o meu Joãozinho,
-Talvez foi em boa hora-,
Foi buscar novos amores,
Meu Joãozinho foi embora!

Coitada da nova amada
Que ele consiga arranjar!
O Joãozinho não tem jeito,
É melhor jogá-lo ao mar!

Talvez alguma sereia
Possa ele namorar,
Mas o Joãozinho, coitado,
Vai ter muito que nadar!

Isso é bom pra qu’ele aprenda
Como é melhor manter,
Queira o safado ou não queira,
O amor duma mulher!

NASCEM OS LÍRIOS DA AURORA

Parado ficou o mundo
Nesta noite eterna e vasta,
Que apenas num só segundo
Todos os sonhos arrasta.

Parado ficou o mundo
Nesta eterna imensidão,
Neste mar negro e profundo
Onde as saudades estão.

Nascem os lírios da aurora,
A verdade que eles têm,
Perfumando nesta hora
O Amor que com eles vem:

Amor que desmancha o rumo
Marcado de mil planetas,
Amor que dissipa o fumo
Que tolda a voz dos poetas;

Amor que fecha os meus olhos
Pra que a alma veja no além,
Por entre pedras e abrolhos,
A glória que o Amor tem!

INVERNO

Eu gosto deste inverno que chegou,
Que bate no meu rosto a sua ventura,
Eu gosto desta branca neve pura,
Desta nova esperança que aflorou.

PASSARINHO NAMORADO

Ouço um lindo canarinho
Que canta na sua prisão;
Na gaiola, coitadinho,
Ele chora a sua paixão;

Com certeza porque clama
Pela amada canarinha
A quem ele muito ama,
E também, presa e sozinha.

Ele não pode fugir
Nem da prisão nem do fado
De nunca poder sentir
O calor do ser amado.

Mas a sua voz é tão bela,
Tão sentido o que ele canta,
Que mesmo desde a sua cela
Vibra o céu na sua garganta.

NAUFRÁGIO 

Quando voltarás
Desse inverno frio?
Quando isso farás?
Será neste estio?

Quando voltarás,
Meu amor perdido?
Onde é que tu estás,
Onde tens fugido?

Ah! quanta saudade
Tem meu coração!
Ah! quanta ansiedade!
Ah! quanta paixão!

Minha primavera,
Quando vai tornar?
Quão longa esta espera
Neste naufragar!!

QUADRAS

Eu amo Maria,
A flor do Sertão;
Roubou minha alma
E o meu coração!

******

Eu amo Susana,
A moça mais bela;
De todos os astros,
A mais linda estrela!

******

Que moça tão linda!
Adoro a Pilar!
Sem o seu carinho
Eu vou naufragar!

******

Adoro a Florbela,
Tem nome de flor!
Se fico sem ela
Eu morro de dor!

******

Ah, minha Cristina!
Ah, minha paixão!
Por ti foi flechado
O meu coração!

******

A Gabriela é minha amada,
Estrela do meu jardim,
Luz da minha madrugada,
Saudade que não tem fim!

******

Fica perdido e absorto
Meu olhar em Margarida:
De todas as primaveras,
A minha flor mais querida!

******

Oh minha querida Inês!
Oh minha grande paixão!
O desejo de te ver
Arde no meu coração!

******

Aurora da minha vida,
Tens nome de madrugada!
De paixão nunca sentida!
Queres tu ser minha amada?

******

Ah, minha morena linda!
Rosinha, minha mulata!
Não sei como vivo ainda
Se você de amor me mata!

******

A linda macaca
Tem seu amorzinho:
De toda a floresta,
O mais bonitinho!

******

Cantando estava, e contente,
A sapinha Margarida;
Ninguém fica indiferente,
Ela é uma sapa querida!

******

Canta o lindo canarinho,
Na gaiola, prisioneiro.
Chora o coração, sozinho,
Por ser do teu, forasteiro!

******

Beijando a florzinha bela
Está o lindo beija-flor.
Eu vou-lhe dizer a ela
Como é grande o meu amor!

******

O amor é uma melodia
Que não me deixa dormir:
Pensando em ti, noite e dia,
Nesse teu lindo sorrir!

******

Rosa vermelha da tarde,
Lírio branco do luar,
Vibra o meu peito que arde
Na fogueira de te amar!

******

Eu adoro a luz divina
Dos poentes, junto ao mar;
Eu adoro a minha sina
De tanto e tanto te amar!

******

Eu adoro o teu perfume,
O de flor de laranjeira.
Que vontade, oh meu amor,
De amarmos a noite inteira!

******

Não gosto de brincadeira
Nem de fingido candor,
Afinal vou virar freira
Se tu não me tens Amor!

******

A mamãe do sapo
Ama o seu sapinho:
De toda a lagoa,
O mais bonitinho!
  
******

A mãe do macaco
Ama o macaquinho:
De toda a floresta,
O mais bonitinho!

******

Oh canção, tu és a miragem
Daquele mundo perdido!
Adoro essa tua mensagem
Do meu amor renascido!

******

Cantando estava no rio
O sapinho Serafim,
Mas como ele tinha frio
Pulou para o meu jardim.

******

De correntes, nem me falem;
Nem me falem de grilhões,
Só quero cantos que embalem
Aos libertos corações!

******

Tem o feitiço da lua
E a inspiração do luar,
Esta canção  que é só tua,
Esta ânsia de te amar.

******

É de solidão o grito,
Esse meu grito interior,
Do meu coração aflito
Lanceando pela dor!

******

Poesia, és quem embalas
Os saudosos corações,
As tristes, feridas almas,
Com tuas amadas canções!

******

Oh meu Deus que triste fado,
Nunca mais hei de voltar
Àquele meu mundo amado,
Àquele meu doce lar!

******

Minha alma chora triste
Por tudo quanto morreu,
Enquanto a saudade insiste,
Relembrando o que foi meu!

******

Existe o grande mistério
De saber que num outrora
Ficou lá, no cemitério,
O ser por quem choro agora.

******

Oh saudade torturante,
Que tu vens fazer aqui,
Pra me mostrar o semblante
De tudo quanto perdi?

******

Oh saudade feiticeira
Porque teimas em trazer,
Queira minh’alma ou não queira,
O que não vai renascer?

******

Às vezes sinto tristeza,
Vontade de não viver!
Neste meu mar de incerteza,
Quanto mais hei de sofrer?

******

A existência me parece
Uma historia fenecida,
Um olhar que não esquece,
Um olhar numa outra vida!

******

Desejo ser teu verso que suspira
Nas noites silenciosas de luar.
Tu és a inspiração da minha lira!
Tu és quem enfeitiça o meu olhar!

******

Essas minhas ilusões,
Onde é que elas estão!?
“Lá no céu, como os balões,
Na noite de São João.”

******

O infinito da lembrança
Ilumina o coração,
Com estrelas de esperança,
Desmanchando a cerração!

******

Vou ouvir meu coração,
Ele não pensa mas sente,
Ele bate com paixão 
E nunca engana nem mente!

******

Finalmente compreendi
Que o meu sonho tão querido
Jaz naufragado é vencido
Pois não voltarei a ti!

******

Ah meu bem, longe de ti
As horas serão tormentos
Onde torture a saudade,
Onde morem os lamentos!

******

Encerrei os meus poemas
Numa garrafa de porto,
Apaguei as minha penas,
Apaguei o meu desgosto! 

*****

Cria-se a saudade,
Toda a dor do mundo,
E a nossa verdade
No verso fecundo!

******

O amor anda à solta
em ondas briosas,
enfeitado de lírios
perfumado de rosas!

******

Sou apenas um espectro
que vagueia por lugares
onde moram as lembranças
onde ferem as saudades!

******

Eu sou apenas a sombra
De passadas alegrias,
E até minh’alma se assombra
Da sordidez dos meus dias!!

******

Este perfume que vive
Em mim e em qualquer instante,
É o sonho que sobrevive
Do teu perdido semblante.

******

Vivo triste, amargurado,
Porque você não me quer;
Tu és meu ser idolatrado,
Sem ti não posso viver!

******

Meu Amor, quanta incerteza
Oprime meu coração
Por não saber com certeza
Se me amas ou se não?

******

Não fanes tão linda flor.
Ai, não tinjas de martírio
Este nosso branco lírio
Que nasceu do nosso amor.

******

Tenho um pardalzinho preso
Numa gaiola emprestada,
Ele é infeliz porque sente
Saudades da bem amada.

******

Fico triste se estás longe
E alegre quando te vejo.
Andar sempre ao pé de ti
É aquilo mais almejo.

******

Meu coração malferido

Está morrendo de dor,
Fica triste e abatido
Se tu não me tens amor.

QUINTILHAS

Que delicia, minha amiga,
Esse cheiro a meresia,
Essa linda praia antiga
Evocada na cantiga
Que vibra na tua poesia!!

******

Esta loucura de amar
Tem momentos fascinantes.
Fico olhando o teu olhar!
Junta-se a terra e o mar!
Toco as estrelas brilhantes!

******

Ficam retalhos perdidos
Daquela perdida historia,
Daqueles tempos vividos,
De saudades, florescidos, 
Nos canaviais da memória.

******

Quero abrasar o meu dano
Com o fogo da paixão!
Desfazer meu desengano;
Com teu amor é que eu fano
O mal do meu coração!

******

O vento leva longe o meu lamento,
A triste evocação dum tempo ido.
O vento traz agora o meu contento,
Com este amor que mata o desalento
Por entre o roseiral todo florido.

******

Ai se pudesse voltar!
Com certeza voltaria
Para poder te beijar,
Para assim recuperar
minha perdida alegria!

******

Dentro de mim é que existe
tanto amor aprisionado,
que até choro e fico triste
pois vejo que nunca viste
meu olhar apaixonado!

******

Sou um barco que naufraga,
Clarão que afinal se apaga!
Nesta vida fugidia
Sem Vinho Verde eu seria
Alma que sem fé desaba!

******

Quando foi aquela manhã tão lembrada?
Aquela flor aberta ao coração,
Aquela luz divina que alumiava
As horas que passavam
Num mundo sem qualquer recordação?

PELAS RUAS DO PASSADO

Nesta minha verdade de não ser,
Deslizo pelas ruas do passado
Meu sonho tão feliz e relembrado
Daquilo que sentira outrora ter.

Deslizo por estas ruas benditas,
Com passos de saudades torturados,
Com olhos tão de lágrimas regados,
O antigo resplendor de mortas ditas.

Assim, no meu caminho escurecido,
Nas alamedas vãs do meu olvido,
Brilha um clarão que não posso esquecer.

Assim, pelos vitrais deste meu fado
Vislumbro o coração martirizado
Que anseia seu glorioso renascer.  

PRECISO...

Preciso do teu amor
Para expulsar minha dor!
Preciso do teu amparo,
Nenúfares do meu lago!
Preciso tanto de ti
Que até a razão eu perdi!

CHUVA

Cai a chuva, céu cinzento,
E com ela o seu lamento.
Talvez é melhor assim:
Lembranças do meu contento,
Saudades que leva o vento,
Saudades que levo em mim.

AFLIÇÃO 

Me aflige esta vontade de te ver,
Sabendo que isso não será possível.
Ainda não consigo compreender
O meu sonho irreal e inextinguível.

Julguei que era quem fui e assim não sou,
Apenas fica um ente introvertido,
Fantasma de um amor que já finou,
A sombra de um passado fenecido.

Por isso este penar constantemente,
Este desejo meu que mora em ti,
Que apenas é lembrança, finalmente,

Daquela manhã clara em que te vi;
E do meu desejar, inutilmente,
Aquele céu radiante que perdi.

JARDIM

Sensações.
O olhar perdido
Entre a verdura povoada de fragrâncias
E o murmúrio do repuxo.

Tudo passou,
Até a dor,
Como água que corre.

Entre rosais e trepadeiras
Ficam quietos meus olhos,
Parados,
Parados como essa voz
que brotava na garganta,

Ancorados como as árvores
Que crescem e florescem,
E sonham com o mar
Sem o conhecer.

CRAVOS VERMELHOS

Não sei se tens reparado
No feitiço dos espelhos,
Na verdura deste prado
E nestes cravos vermelhos:

Eles são da cor da vida,
Cor de sangue e de paixão;
A esperança revivida
Do esquecido coração.

Vibra a primavera em flor
E brota tudo risonho:
O amanhecer deste Amor,
O despertar do meu sonho!

E com tudo florescido,
Com esta paixão tão louca,
Anelo o jardim florido
Dos beijos da tua boca!!

ALMA PERDIDA

Que vens fazer aqui, alma perdida;
Neste jardim que outrora fora teu.
A dita já acabou, tudo morreu
No amargo escurecer da despedida!

Naquele instante vil, quando perdeste
O amado lar, os seres que te amavam,
E viste como foi que assim finavam
O claro dia, a clara luz celeste,

E enfim, a bela noite derramada
Em fúlgidas estrelas, docemente,
À espera da radiante madrugada!

Por que voltas aqui se infelizmente,
Daquilo que era luz e que aquecia,
O vento dissipou toda alegria?!

ASTRO PERDIDO

Reflecte o esplendor de um astro amado
A lua, que a sua pura luz manteve;
Parece relembrar a brisa leve,
A brisa de um amor recém-chegado.

Parece recobrar esse legado
De um sol cujo calor fundiu a neve,
Com raios de ilusão e instante breve,
E torna com fulgor ressuscitado.

Bem sei que esse clarão fere ao olvido,
Florescem idos gozos que eu sentia
Nos raios desse sol nunca esquecido.

Gozemos, seja apenas um momento,
Sob essa luz que outrora possuía
Aquele bem amado firmamento. 

MINHA SAUDADE

Percorro sem pausa,
De olhos cansados,
Lugares perdidos,
Momento amados.

Nada sou -nada serei-
Neste mundo tão distante
Que tantas dores causou
Ao meu coração amante.

Mas há um poder estranho,
Como uma ressurreição,
Que entre as trevas da memoria
Acalenta o coração;

É uma força singular,
Ela é quem me diz: “Resiste,
Neste vazio que vês
Há uma coisa que não viste

E sempre te acompanhou:
É uma paixão que te habita:
Se despertares, fenece,
Nos teus sonhos, ressuscita!”

ANSEIO

Anseio tanta coisa que morreu
Que agora desconheço quem sou eu!


NOITES DE VERÃO

Noites de verão,
Noites d’outro tempo,
O vento as levou
Com o meu contento.

Noites encantadas,
Do primeiro amor,
De alma que suspira,
De imenso esplendor.

Noites de alegrias,
De ingénua paixão,
De aragem que corre
Pelo coração.

Noites escondidas
Que enfeitiça a Lua,
Ficaram prendidas
Na rosa que é tua.

FEITIÇO

Voltarão aquelas horas de alegrias,
Voltará o branco feitiço do luar,
Sob os céus de lindas noites fugidias,
Entre estrelas que de novo hão de brilhar.

Voltará o eterno som que tanto anelo,
Quem a alma regozija e engalana,
Desterrando sofrimento e desespero
E mostrando sua potencia soberana.

Voltarás, oh minha flor, na primavera,
Perfumada de saudades e contento.
O rosal que floresceu trás longa espera
Já deslumbra de esplendor o firmamento.

Do feitiço do teu ser fiquei cativo:
Tu és razão do meu viver, enquanto vivo!

ALMA TRISTE

A esta alma entristecida,
Quanta saudade lhe cabe?
Quanto sofre porque sabe
Da sua terrível ferida?

Ela canta ensimesmada
Àquele seu doce lar,
Àquela dita sempar
Da que vive desterrada.

Ela é um alma inquieta
Que evoca mundos sonhados,
Pelas musas inspirados
Como os sonhos do poeta.

Só versos sabe fazer
Mas a sua dor nunca acaba
Pois o mundo que ela amava
Nunca mais vai renascer!

AUSÊNCIA

A minha vida toda é apenas ausência,
É saudade infinita que não vai acabar,
É evocar noite e dia tua perdida presença,
O meu mundo perdido entre a terra e o mar.

Entre a terra e o mar, num lugar escondido
Que ninguém mais conhece mas que mora em mim,
Que por vezes aponta, dentre a névoa surgido,
Com suas lindas varandas, as que enfeita o jasmim.

Já nem sei onde estou, se estou morto ou se vivo;
Já nem sei quem eu sou, ou se a terra que piso
É do mundo real, onde moro cativo,
Ou meu belo jardim, meu gentil paraíso...

Entre sonhos, perdido, eu fiquei condenado,
A evocar teu perfil, teu perfil bem amado!!

NÃO POSSO TE ESQUECER

Não posso te esquecer porque tu és
Metade desta alma tão saudosa,
A lágrima que brota e que talvez
Faz imortal o brilho da tua rosa.

Não posso me esquecer da tua figura,
Do jeito de me olhares esse dia,
Instantes de prazer e de ventura
Que aquece uma lembrança fugidia.

Não posso te esquecer porque te amo
Num mundo bem amado que foi meu;
Com alma e coração é que te chamo
Porque este meu amor nunca morreu!

Porque este meu amor é infinito!
Ferido de saudades, como um grito!!

ELA NÃO VOLTOU

Nessa manhã clara
Ela foi chegando;
Negro o seu cabelo,
Seus olhos me olhando.

Nesse pôr de sol
Ela já passou,
Passou a alegria
Que nunca voltou.

Eu então fiquei
No mesmo lugar,
Por se alguma vez
Voltasse a passar.

Ela não voltou,
Mas fico esperando:
Olhos rasos d’água
Seus olhos lembrando!

Sua imagem querida
Não posso esquecer,
Pois sem sua lembrança
Prefiro morrer!

A CARTA

Na linda noite de abril,
Toda enfeitada de estrelas,
Chega a tua carta gentil
Cheia de estrofes tão belas.

Que longa noite de abril
Que nunca quer acabar!
Nem sua canção tão subtil,
Nem o tempo de sonhar!

De sonhar porque sonhando
Vive a alma desterrada,
Morta, triste e evocando
A minha perdida amada.

Mas agora ressuscito
Com a sua carta de amor:
Nas estrelas acredito!
As que canta o trovador!

NOITE

Nesta noite no jardim,
As tímidas violetas
Batizadas de luar,
Choram saudosas e quietas.

A lua é uma feiticeira
Que enfeitiça e faz chorar,
Mostrando aqueles momentos
Que nunca vão regressar;

E nas noites sem luar
Há uma estrela que palpita,
Que ao longe me faz lembrar
Quão fugaz foi minha dita.

Tudo passa e tudo morre
Mas na noite sinto a medo
Como tortura a saudade
No meu terrível degredo.

MINHA AMADA

Adoro uma feijoada
Com farinha de mandioca,
E inda mais, da minha amada,
Os beijos da sua boca!!

Adoro sardinha assada,
vinho verde e pão gostoso,
E inda mais da linda amada
O seu fruto delicioso!!

MEMÓRIA

Uma estranha melodia
Perfuma com seu relato,
Seja de noite ou de dia,
Este tão velho retrato.

Uma canção que ressoa
Pelo mar do sentimento,
Como uma lágrima à toa
É levada pelo vento.

Uma forte tempestade
Dentro do meu coração
Leva no vento a saudade
Duma perdida paixão.

Surge fúlgido, flagrante,
O resplendor imortal
Daquela vida vibrante,
Do meu destino fatal:

Voltar lá é apenas sonho
Que boia pelos momentos
Das miragens que componho,
De saudades e lamentos!!

AMOR PLATÔNICO

Buscar o teu olhar que me fascina,
Verdade tão imensa e céu tão puro,
Amor que tanto anseio e que procuro
Qual busca um cego o dom da luz divina.

Sentir que é uma quimera peregrina
Andar detrás de ti num céu obscuro,
Saber que nos separa um alto muro,
Que apenas é um amor que se imagina.

Teu nome de mocinha tão amada
É como essa canção que em mim sentia
Ser voz duma paixão idolatrada.

Teu ser que é de ilusão e fantasia,
De boca carmesim tão anelada,
Transcende ao vasto mar e até a poesia.

ABSORTO

Absorto ante o amor
permaneço admirado
do viço esplendoroso dessa flor,
do signo misterioso do seu fado;

é luz que purifica,
canção que faz vibrar o sentimento,
incenso que perfuma e se dissipa
por toda a imensidão do firmamento.

Amar é ver a luz no olhar da amada,
é encanto no sentir,
pisar por uma terra imaculada.

Amar é pois fluir
ao som imemorial duma balada
que deste mundo vil nos faz fugir.

VAGO PELO CEMITÉRIO

Tanta coisa há que não torna,
Nem eu sei como tornar
Àquele mundo perdido
Que apenas posso sonhar.

A vida é já puro sonho,
A chuva arrasta a ilusão
Daquela que foi outrora
Minha adorada paixão.

Vago pelo cemitério
Onde mora a morta dita,
Onde o meu amanhecer
Já para sempre dormita.

Apenas fica já agora
Uma inefável canção
Com que bate entristecido
O ferido coração.

MEU AMOR FOI EMBORA

O meu Amor foi embora,
Por isso fiquei agora
Triste e tão amargurado.
Minha vida não é vida,
desde o dia da sua partida
já não canto mais o fado!

COMO A ROSA

Que fortuna tão distante,
que o pensamento imagina
luminosa.
Que esplendor tão rutilante,
daquela ilusão divina,
misteriosa.

Quanto andar, quanta fadiga,
quanta pena e sofrimento
que tortura.
Este evocar que fustiga,
a inclemência deste vento,
tão segura.

E esta vida que já é nada,
mas que noutro tempo fora
tão ditosa;
sem fragrância e desfolhada,
sente saudades e chora
como a rosa.

TORMENTOS

Meu Deus, tira-me d’alma estes tormentos,
Tortura de estar vendo quão distantes
Ficaram tão perdidos os momentos,
Aqueles de esplendores rutilantes!

Aqueles que assombrado eu recebia,
Os mesmos que de sonhos se geravam,
Que foram tão de gozo, de alegria,
Aqueles que outros mundos me mostravam!

Aquela flor murchou mas sua fragrância
Perfuma o céu azul de irrealidade,
perdendo o seu poder tempo e distância.

Beijando vão florestas primordiais
E encantam com total impunidade
Aromas que se julgam imortais.

AMAR

Absorto ante o amor
Permaneço admirado
Do viço esplendoroso dessa flor,
Do signo misterioso do seu fado.

É luz que purifica,
Canção que faz vibrar o sentimento,
Incenso que perfuma e se dissipa
Por toda a imensidão do firmamento;

Vibrar perante a luz da bem amada,
Encanto no sentir,
Pisar por uma terra imaculada.

Amar é pois fluir
Na música imortal duma balada
Que deste mundo vil nos faz fugir.

HEI DE DEIXAR-ME LEVAR

Hei de deixar-me levar
Por entre as ondas do mar;
Ser meu sonho não vivido,
Alto, livre e verdecido
No seu longo navegar!

Entre lágrimas eu vejo
O supremo resplendor,
Os astros brilhando em flor,
Quanto d’alma é seu desejo
E sublima a minha dor!

TÃO ENAMORADO

Tão enamorado
daquela presença:
tão fiel companheira
que não mata a ausência.

Tão enamorado
daquela ficção,
morto e acabado
bate o coração.

Tão enamorado
do jardim florido,
brota uma ilusão
sem nenhum sentido.

Tão enamorado
desta fantasia,
que brilha de noite
que sonho de dia.

Tão enamorado
deste amor por ti,
choram as estrelas
pelo que perdi.

Quando tornará
o amor que brilhou
na noite perdida
que nunca voltou?

CINZA QUE FOGE

Sou apenas um homem que pela vida passa,
Como passam os dias, como passam as horas;
Sou de cinza que foge, sou dispersa fumaça,
Sou um eco distante de dourados outroras.

Sou um ente vencido que perdeu a ilusão,
Que nos versos escreve como foi que sumiu
A esperança sentida pelo seu coração
E essa música amada que já nunca se ouviu.

Sou um ente que sofre, que relembra o passado.
Já cansado e sem força a cabeça reclino,
Sem nenhuma esperança, à Saudade encostando.

Nada mais eu espero nem desejo lutar,
Sou a corda quebrada dum quebrado violino,
Sou um sonho perdido pelas ondas do mar.

ESTA SAUDADE

Esta saudade
Que não tem fim
Desce profundo
Dentro de mim.

Esta saudade
Que nunca acaba
Dança num corpo
Que já desaba.

Esta saudade
Que fere e dói
Dança num mundo
Que já se foi.

Esta saudade
Que não tem cura
Dança comigo
Até a sepultura.

PRESENÇA SONHADA

Fico todo amargurado
Quando foges do meu lado.
Sem saber do teu carinho,
Do perfume da tua flor,
Fico triste, sem amor,
Tão apagado e sozinho.

Você é minha namorada,
Flor da minha madrugada
De perfume singular.
Anseio meu novo dia
Pátria da minha alegria
Que tu tens para me dar.

És meu mundo que girando
Só por ti vive esperando
Sua canção iluminada:
Aquela que ouvira outrora
E renasce com a aurora
Da tua presença sonhada. 

AMAR É UMA COISA BOA

Amar é tão grato!
Amar é tão bom
que amando a saudade
que evoca um retrato
chora o coração!

Amar é tão bom!
Bem sei o que digo
Pois minha paixão
E os sonhos estão
Num mundo perdido!

Amar é tão grato!
Bem sei que é assim,
Mesmo que o mandato
Do fado insensato
O afaste de mim!

Amar é sonhar
Sem nenhum sentido!
Amar é voltar,
Sem nada entender,
Ao sonho perdido
Do meu renascer!

HERÓI INTERGALÁCTICO

Como sou menino ainda
eu adoro as aventuras
dos abnegados heróis,
dessas heroicas criaturas.

Vai para alem dos quadrinhos
a gloria das suas façanhas:
por tão distantes planetas
por galáxias tão estranhas.

Pelos espaços navega,
lutando com os aflitos,
contra despóticos reis
ou tiranos esquisitos.

A sua espada, destemida,
ele usará com certeza,
pois contra o vil opressor
mostra toda a sua fereza.

Como há tanto tirano
por este Universo ingrato,
que subjuga ao desvalido
com desprezo e com maltrato,

o herói nunca duvida
e reprime tal ação,
pois a justiça procura
com abnegado tesão.

Não vai só por esses mundos,
tem nosso herói a sua amada,
que é valente, corajosa,
além de esperta e ousada. 

JARDIM PERDIDO

Houve um jardim de alegria
e uma música triunfal.
Sem saber que acontecia
tudo morreu certo dia
como morre o carnaval.

Mas por que tanto penar!
Por que degredo tamanho!
Tão breve foi meu gozar
daquele sonho sem-par,
daquele mundo de antanho!

Era um sonho tão cordial:
o meu lar, a minha rua!...
Tão radiante, tão vital!
Sem pressentir o final,
eclipsou-se a minha lua.

Vago agora obscurecido
por uma perdida estrada;
em saudades submergido
por causa de ter perdido
minha querida alvorada.

CANSADO CAMINHANTE

Nada sei nem saberei
do paradeiro da alma;
se por fim a encontrarei?
se tornará em noite calma?

Houve um tempo que sentia,
em sonhos que imaginava,
cheios de encanto e poesia,
que no meu peito morava.

Mas o sonho terminou
e apenas fica o luar:
o que outrora iluminou
as profundezas do mar.

Resplendor que vejo ainda
na miragem deslumbrante
daquela ilusão tal linda
do cansado caminhante.

MINHA RUA

Aquela rua daquele mundo,
Aquela de um outrora que não morre,
É como um sentimento que percorre
O ser da minha alma mais profundo.

Por ela é que passou a fantasia,
A pátria mais real que nunca tive,
Miragem do meu lar que sempre vive
Boiando por um éter de alegria.

Mas esta infinda dor que sempre aflora,
Que fere o coração com uma espada,
Está sempre a dizer: “Não vive nada,
Só existe este penar que tens agora!”

No fúlgido esplendor de mortos dias
Procuro o que perdi, na irrealidade,
E aflito por verdades tão sombrias
Pisando vou as pedras da saudade.

SAUDADES DOS MEUS PAIS

Papai partiu um certo dia
Mas ele sempre mora aqui,
Neste meu peito que sentia
O seu amor, sua companhia,
Momentos que comparti.

Seu sonho a vida lhe quebrou
E mesmo assim ele lutava,
Até que a morte, despiedada,
Nossos caminhos separou.

E dessa linda mãe que me gerou
Também me separou a morte fria,
Sem conhecer sequer a companhia
Daquela que o meu pai com zelo amou.

Vivemos nestes mares tão distantes,
Salgados pelas lágrimas da ausência,
Enchidos de saudades palpitantes,
De tempos, não vividos mas brilhantes,
Suspensos numa mágica cadência.

PRECISO ESCREVER

Escrevo a toda hora
os versos bem rimados,
pois no ritmo é que mora
a graça dos meus fados.

Escrevo a toda hora
os versos bem medidos,
pois assim enamora
seu ritmo os teus sentidos.

Escrevo sem parar
os meus versos de amor,
pois quem não pode amar
pode morrer de dor.

Escrevo e nunca paro
pois para não sofrer
nem sentir desamparo
não paro de escrever.

TALVEZ VIRE CANGAÇEIRO

Por causa do meu amor
eu fico sofrendo assim,
ela é a mais linda flor,
ela não gosta de mim.

Toda a noite penso nela
e por isso durmo mal,
relembrando que é tão bela,
que ela mora em Portugal.

Vou procurar outro amor
quando chegue o mês de abril,
e assim matar minha dor
partindo para o Brasil.

Viajarei pois de avião,
procurarei nova amada,
andarei pelo Sertão
e comerei feijoada.

Talvez vire cangaceiro,
de espingarda e emborná,
levando pena e tinteiro
e versos pra namorá!

Andarei pelas estradas
que calcara Lampião,
procurando a minha amada,
minha sonhada paixão.

E com certeza acharei
esse meu bem no caminho:
a Rosa que eu anelei
para não ficar sozinho.

TODO AMOR PODE MORRER

Todo amor pode morrer
numa noite sem luar,
antes que o sol retornar
para tudo renascer.
Pode então acontecer
que essa tão grande paixão,
esse amar com efusão...
sejam coisas do passado,
fique o peito torturado
e os olhos chorando em vão!

PELA SENDA AQUELA

Pra que ter saudades
do que já não volta?
Para que velar
a paixão já morta?

Quero esse sentir
que é flor do momento
para reviver
nas asas do vento.

Cavalgar sem fim,
sem nenhum dever
pela imensidão
do meu renascer.

Quero passear
pela senda aquela
onde brilhará
minha amada estrela!

TERRÍVEL FERIDA

Aberta ficou minh'alma
por tão terrível ferida,
aquela que já rasgou
o ritmo da minha vida.

A fogo ficam gravadas
saudades do velho lar,
banhadas de dor profunda,
banhadas pelo luar.

Vou percorrendo essas ruas
que outrora foram sustento
daquele canto d'aurora,
de tão divino elemento.

Sonho daqueles instantes
que inda não sabem morrer,
pranto salgado nos olhos,
esperando eles vier.

Miragens pelos desertos
daquilo que já morreu,
vibra nos ventos o ritmo
do que sonhei qu'era meu.

POBRE ALMA

Lágrimas brotam do sonho
de passadas alegrias;
alma que vai relembrando
a miragem de outros dias.

Pobre alma estremecida
numa tão bela alvorada,
de estrelas que vão fugindo,
de saudades perfumada.

Triste fado de quem vive
apenas do que foi seu,
sem ter certeza nenhuma
do que realmente morreu.

TIMIDEZ

Timidez,
nos ares de outrora,
nos olhos que olharam,
e que olham,
e no sonho inacabado
que palpita.

As estrelas das mil noites
conhecem o segredo
daqueles momentos
que arrasta o vento,
que navegam,
revividos.

SONHOS

Sonhava que amanhecia
numa querida alvorada.
Sonhava que assim vivia,
sendo feliz sem mais nada.

Mas desconheço quem sou,
e no lugar que eu estou
vago como um vagabundo,
que chora e que vai sofrendo
pois tudo o que está vivendo
fica fora do seu mundo.

Caminho com passo ausente
com meu medo recorrente
que não me deixa partir;
assim meu canto afligido
evoca o mundo querido
que não posso descobrir.

Nunca acaba este desterro
nem minhas penas enterro
nem acaba a maldição,
e nesta noite estrelada
sonho com essa alvorada
que ilumina o coração.

PERDI O MEU CORAÇÃO

Ando sem inspiração,
sem rumo e sem coração,
sem jeito para encontrar
meu astro e a minha lua;
ando assim por qualquer rua,
ando sem saber de andar.

Meu coração já não mora
neste meu peito de agora,
apenas mora a lembrança
de um coração que batia,
que sonhava e que sentia
sua maravilhosa dança.

NOITES DE SAUDADES

Noites de alegria,
noites de outro tempo:
tudo quanto eu sou,
meu feliz momento!

Noites de ventura,
de grato verão,
noites que palpitam
no meu coração.

Noites misteriosas,
plenas de luar,
não as leva o vento
nem qualquer azar.

São noites que moram
num mundo irreal,
noites que passaram
mas não têm final.

TRISTEZA

Onde fica a rosa
que jamais eu vi;
fragrância ditosa
que nunca senti.

Que errático fado
da minha existência;
caminho cegado,
por mares de ausencia.

A chuva que cai
dá vida e frescor;
nas suas gotas vai
meu roto esplendor.

Regadas veredas
banhadas de encanto;
belas alamedas
cobertas de pranto.

CHUVA

Pressagia o Outono
a chuva que traz
lavadas as folhas,
as folhas que caem.

Pressagia esta vida
as folhas de outrora,
as que floresceram
nas amadas horas.

Chovidas tristezas,
tão longas esperas:
vai tornar a flor
pela primavera?

Tornará o amor,
junto com a vida:
chuva do meu sonho,
alma florescida!

VENTO

Há um vento que transita,
que arrasta as folhas caídas,
mas que não pode arrastar
tantas horas concluídas.

Há um outrora que suspira,
que deseja reviver,
se alimenta de lembranças
na ilusão de florescer.

Recuperar a alegria,
que tive ou imaginei,
foi buscando a minha alma
pelos caminhos que andei.

Talvez o amor consiga
inundar-me de quimeras,
por entre estrelas cadentes,
entre mágicas esferas.

Algo pois deve existir
para renascer por fim,
com o que resta da vida
com o que resta de mim.

TEMPO E VENTO

O vento arrasta sem pausa,
dos túmulos, a poeira;
com plena soberania,
tão real, tão verdadeira.

O tempo tanto nos marca,
sulcos na alma no rosto,
e a saudade que cavalga
entre perdidos tesouros.

Só o vento que circula
com ares de fim de agosto,
tem os encantos da lua,
deixa fragrâncias de Outono.

DESTINO

A batalha está perdida,
só resta agora esta dor.
Desde o dia da partida
morreu minha linda flor.

Quebrados ficam os laços
que me uniram tanto a ti,
e o coração em pedaços
de tanto que assim perdi.

De nada serve implorar,
seja aos deuses, seja aos santos,
de nada serve chorar
por tão vários desencantos.

O destino é implacável,
não lhe interessa a razão
desta súplica inefável
do meu triste coração!

FIM DE TRAJETO

Neste fim de trajeto
ignoro quem há de chegar primeiro
a esse lugar ignoto onde mora a alegria,
onde a vida está despossuída de mentiras e verdades,
onde canção e ilusão presidem a mesa do tempo,
onde a noite amanhece florescida de novo dia,
onde uma canção fecunda o coração e o sentimento.

Quem alcançará antes esse mundo perdido,
meu ser que tanto o anela ou a morte?

SAUDADE

Não sei o que foi de mim,
por que ficou esta dor,
por que outrora essa luz vi
com tão mágico esplendor.

Fica um eco tão distante
que a distancia nunca mata,
que nesta vida minguante
este meu pranto desata.

Não bebo para esquecer
pois nunca vence o olvido,
vivo pra comemorar
a luz dum mundo perdido.

Sou um fantasma entre a gente,
entre as estrelas e o mar,
que sempre arrasta a corrente
de não poder regressar.

OUTONO

Fechei a porta certo dia,
saí de casa e fui ao parque.

Molhada estava a terra,
graciosa em seu perfume.

Era outono, de encantadora fragrância
e mágica melodia.

Então as folhas caídas não pressagiavam
o desabar da mocidade.

ETERNA POESIA

Como uma torrente chega
A esperança de te ver,
Pois tua presença navega
Pelo mar do meu viver.

O espelho nunca mente,
E o meu rosto já mudou,
Mas minh'alma ainda sente
Quanto o teu amor me doou!

Moras no meu pensamento,
És a flor da sua paixão
E o mais puro sentimento
Que rega o meu coração!

Antes de que morra a chama
Teremo-nos algum dia?
Como prémio de quem ama!
Qual uma eterna poesia!

PERFUME DE ROSAS

Vibra um aroma de flor,
fragrância de amanhecer.
Rosa que treme no ar,
orvalhada de prazer.

A rosa que tanto anelo,
rosa efémera e bendita,
relembra com seu perfume
aquela efémera dita.

Pétalas de ilusão viva
que o rude sopro do vento
foi arrancando sem pausa
do caule do sentimento.

Mas seu perfume porfia
e também porfia o amor,
apesar desta distancia
que enche o meu peito de dor.

QUERO FUGIR DAS SAUDADES

Quero fugir das saudades
que me causam tanto mal,
não permitem responder
ao amor que tu me dás.

Odeio esta desventura
de viver sem teu amor,
de fugir constantemente
ao meu recanto de dor.

Não sei como aconteceu,
por que me afastei de ti,
se o meu canto floresceu
quando o teu canto senti?

Talvez seja este o meu fado,
que me leva a uma outra era,
sem outro sonho anelado
que uma morta primavera!

PERDIDO

Perdido nos meus sonhos me recreio;
evoco o meu passado.
O livro das lembranças sempre leio,
do que já foi andado.

Livre de todo anelo e pelos mundos,
tal como faz o vento,
vibram sonhos distante e profundos
e o triste pensamento.

Tristeza que conforta pois evoca
o meu jardim perdido.
Destino inexorável que convoca
a um mundo fenecido.

ROMANCE DOS GRILOS ENAMORADOS

I

Debaixo dum choupo,
por entre as violetas,
cantam as cigarras,
voam borboletas.

Lindo roseiral
perto se encontrava,
onde tão feliz
as vespa libava.

Também mora lá
um grilinho lindo,
ao que todos chamam
Grilo Gumersindo.

Este bom grilinho
tem um grande amor,
que ele mantém vivo
com zelo e fervor.

Apenas a noite
pousa na floresta,
os grilos convocam
sua mágica orquestra.

Mas nosso grilinho
não quer mais tocar
porque a sua querida
não pode encontrar.

E assim toda a noite
E assim todo o dia,
muito a procurava,
nunca aparecia.

Um dia Gumersindo
foi lá para o Céu,
Porque sem a amada
de pena morreu.

II

Quando um grilo quer assim,
desse jeito, desse modo,
perder o ser mais querido
é perder o mundo todo.

O destino da grilinha
afinal é revelado,
foi um menino ruim
quem a tinha capturado.

Então ela ficou presa,
numa latinha, encerrada;
por causa de tal tormento
muito sofreu a coitada.

Até que passado um ano
os papais puderam ver
o mal que o filho causara
com o seu mau proceder.

Quando afinal fica livre
procura ao seu grande amor,
mas sabendo da sua sorte,
morre transida de dor.

Este drama, esta tragédia,
poderia ter-se evitado,
se nenhum bichinho fosse
prendido nem maltratado.

Quem sendo menino goza
com ato tão desumano,
pode acabar finalmente
convertido num tirano.

PARDAIZINHOS

Os pardaizinhos cinzentos
cantam todos, tão cedinho,
e acompanham, as suas notas,
meu jeito de andar sozinho.

Encanta os meus ouvidos
seu coro de voz gostosa,
tal como o meigo suspiro
duma saudade amorosa.

Me faz bem ouvir seu canto,
tão humilde mas tão belo,
evoca um mundo feliz,
o mundo que eu tanto anelo.

Vão pulando pelo chão
esses lindos passarinhos,
seus bebês querem comer,
estão famintos nos ninhos.

Procuram qualquer bocado,
qualquer inseto que passa,
para que os filhinhos tenham
esse olhar cheio de graça.

LAGARTIXA

Conheço uma lagartixa,
Rosinha é o nome dela;
simpática e brincalhona
e além disso, muito bela.

Tem uma pele bonita,
tem uma cauda comprida;
tomando banhos de sol
parece que está dormida.

Tem uma língua retrátil,
mas não gosta de fofoca,
serve apenas pra levar
os insetos para a boca.

Rosinha é muito querida,
ela é culta e educada,
nunca faz mal a ninguém
e nunca fica zangada!

SONHO DE AMOR

Oh! meu Amor, te anelo a cada instante
Com o profundo amor que mora em ti,
Com este coração tão palpitante,
Com ventos de paixão que eu nunca vi.

Anseia minha alma, minha vida,
Perder-se no teu corpo, com veemência.
Acordes de canção jamais ouvida
Embalam meu sentir, minha existência.

Albergam minhas mãos ânsia que enleva,
E querem percorrer todo o teu ser,
Tocar-te pra fazer-te estremecer

Num louco frenesi que ao corpo leva
Até o sublime amor que nos eleva
Ao sonho inextinguível do prazer.

SUAVES PALAVRAS DE AMOR

Suaves palavras de amor,
Essas que vão pela brisa,
As que escrevo para ti
Sobre o papel se deslizam.

Suaves sob o céu anil
Boiam as nuvens que passam,
Sulcam os ares as aves
Com suas estendidas asas.

Brotam sonhos, fantasias,
Entre a folhagem que oscila
Ao som duma harpa distante,
De encantadas melodias.

O amor boia pelo ar,
Violetas tecem o sonho,
Como uma paixão que aflora,
Como um amado reencontro .

Quereria te amar sempre.
Quando menino eu pensava
Que esta vida era tão longa,
Que ela nunca terminava!

MOMENTOS

Instantes há que vagam pelo mundo,
Momentos frente ao mar,
Aqueles de um amor puro e profundo
Em noites de luar.

Assim vai meu amor por ti boiando
Sem rumo nem cuidado,
Nas ondas da paixão e imaginando
O encontro tão sonhado.

Assim por teu amor floresce a vida
E sopram fortes ventos,
Ficando pois a alma assím despida
De penas e tormentos!

CORAÇÃO

Sinto o coração sonhando
com amadas pulsações,
no seu bater vai ficando
a flor das suas vibrações.
Nas alamedas do vento
vibra inteiro o firmamento
do amor que ele tanto sente.
sangue e vento que palpita
porque Ela é a semente
da sua paixão infinita!

SONHO

Todas minhas noites
antes de dormir
vejo teu retrato
que tanto eu já vi.
Meu sonho é tão doce
quando penso em ti.
Lençóis tão alvos,
tule carmesim.

E já sonolento
começo a tecer,
feixe de violetas
rendido a teus pés.
Te sonho tão minha,
é tanto o prazer,
quão doce é a tua boca
de beijos de mel!

Tua fragrância envolve:
tomilho, hortelã…
e os olhos se fecham
para não velar
e em sonhos profundos
podermos amar:
tão alto, tão livres,
tão cheios de paz.

DEIXANDO-ME LEVAR

Deixando-me levar por teu amor
sinto que já te vejo.
Sentir-me aconchegado em teu calor
é o que mais almejo.

Me arrasta este desejo da tua boca:
esse que já me inunda,
de te beijar assim, numa ânsia louca,
perdidos na penumbra.

Beijar teus seios, lábios lascivos;
libar por entre as coxas, da tua essência,
ouvindo já teus gritos, teus gemidos,
que marcam o final da nossa ausência!!

AMAR

Te amo nesta tarde anil de calma
E neste mar de jade
Que vão enchendo espaços na minh'alma
sem tempo nem idade.

Também na floração da primavera:
Aroma de violetas.
Em tantas cores lindas que ela gera:
Asas de borboletas.

Assim vai meu amor por ti viajando
Por sítios singulares,
Enquanto gira o sol iluminando
A imensidão dos mares.

NOITE ENLUARADA

Quando a noite está enluarada
sentem ciúmes as estrelas,
dessa lua cheia e redonda,
porque elas são mais pequenas.

Mas são ciumes infundados
que a lua não quis provocar;
ela busca ao seu amado
com a luz do seu luar.

Talvez ele ande perdido
sob a folhagem dos campos,
por isso ela pede ajuda
ao povo dos pirilampos.

Todos procuram o noivo,
buscam até a madrugada
mas ninguém sabe que ele
fugiu com a nova amada:

Uma estrelinha bonita
que tem brincos de coral,
e ilumina os olhos dele
com seu brilho sideral.

CORAÇÃO INSUBMISSO

Na redonda lua de prata
Encerrei meu coração;
É insubmisso e me maltrata   
Com a sua doida paixão.

Quero que ele fique quieto
Para que ande sem cuidados,
Bem comportado e discreto,
E com sonhos sossegados.

Mas desconfio muito dele
Porque é travesso e gaiato, 
E algum diabinho lhe impele
Pra ser assim, tão ingrato.

Só quer saber de poesia
E gosta muito de amar,
Temo que fuja algum dia
Pelas ondas do luar.

CAFÉ GOSTOSO

Quando menino tinha uma amiguinha.
Uma vizinha, por vezes, nos convidava para tomar um café.
Ficávamos ambos sozinhos, na cozinha, com o café recém-feito,
tão gostoso!!
Então imaginávamos que aquele era o nosso lar e que morávamos lá,
juntinhos e unidos por um grande do amor.

DEPOIS DA MORTE

Que haverá depois da morte?
Que jardim desconhecido?
Que saudades de um passado
Num outro tempo vivido?

Viverá nossa memoria?
Poderemos recordar
Os instantes amorosos
Duma tarde frente ao mar?

Almas sem corpo seremos,
Libertas pelos espaços,
Sem conhecer o calor
Dos beijos e dos abraços?

Passamos, todos passamos,
De lá nada conhecemos,
Vamos para um outro mundo,
Talvez nos encontraremos!

VELA ACESA

Que me amavas, tu disseste
E não suobe contestar,
Pois suspenso em meu sonhar
Teu sentimento verteste.

Sentimento delicado,
E do mais alto valor!
Dos presentes, o melhor
Que Deus nos há reservado!

Amar é tão misterioso,
Coisa que a alma não cala;
É essa flor que sempre exala
Seu perfume esplendoroso.

Pobre poeta exilado
Que a sua paixão não confessa,
Fica com a vela acesa
Dum estranho e triste fado.

OUTONO

O outono dourando vai
As folhas da minha vida,
Como a rosa que se esvai,
Tão amada, tão querida.

Toda a flor da mocidade
Pela aragem arrastada
Vibra inteira na saudade
Duma paisagem sonhada.

É pois um fato evidente
Que tudo vai desabar,
Até o coração que sente
Um grande amor palpitar.

Palpite pois o coitado,
Seja quarta ou quinta-feira...
Antes de que dite o fado
A sentença derradeira.

SONHO

Ontem à noite sonhei
com este amor tão real;
em seu louvor cantarei
por um mágico rosal,

por um espaço encantado
onde eu poder evocar
quando estavas ao meu lado,
nesse tão divino azar.

de imaginar-te comigo
nesse jardim que eu bendigo
onde floresce a paixão,

onde cantam passarinhos,
namorando, nos seus ninhos;
onde vibra o coração!!

JARDIM DA ALEGRIA

Houve um tempo sem saudades
Na varanda de um jardim,
Eu era amigo da Lua,
Ela olhava para mim.

Houve um tempo sem a idade
Que agora passa e altera
A ilusão que o sonho sonha
Duma eterna primavera.

Houve um lindo amanhecer,
Houve uma noite encantada,
Um mundo que julguei meu…
Disso não fica mais nada.

Fica apenas o jardim
Duma suspensa alegria
Quando por amor floresce
Alguma humilde poesia.

TUAS PALAVRAS

Tuas palavras chegaram tão profundo,
Ornadas de paixão, de tanto encanto,
Que matam meu pesar, meu desencanto,
Que são o mais prezado deste mundo!

Ouvir-te que me amas me estremece
Com esse grande amor que se adivinha,
E só o imaginar que serás minha
Inunda o meu deserto, que floresce.

Sonhar-te não me deixa nem dormir,
Teus olhos conquistaram meu sonhar,
Suspensa fica a alma e o sentir,

Navego pelo espaço e pelo mar;
Sem ti não saberei o que é viver!
Sem ti não saberei o que é amar!

AMOR DESEJADO

Esta saudade de ti,
este universo infinito,
este meu imenso grito
que chora dento de mim!

O mais sublime prazer
mora no meu coração,
quando floresce a ilusão,
a esperança de te ver.

Ilusão que se adivinha
no seu máximo esplendor
quando essa vermelha flor
do teu beijo seja minha.

Depois daquele momento
beijarei teu corpo todo,
pregostando desse modo
do mais alto firmamento.

Submergido em teus encantos,
perdidos noutras esferas,
ouviremos doutras eras
os mais sedutores cantos!!

AMOR SONHADO

O beijo que tu mandaste
foi voando pelo ar;
até os meus lábios chegaste
com encantos de luar.

Só de mirar-te, tão bela,
sinto a mais grande paixão;
esquecido na tua estrela,
tomado o meu coração.

O meu amor vai crescendo
enquanto passam os dias,
as tristezas vão morrendo
e nascem as alegrias.

Nos meus sonhos eu consigo
atravessar os espaços,
para encontrar-me contigo
e prender-te nos meus braços.

CANÇÃO

Quando tudo está perdido,
o lar de outrora e a fé,
e aquele jardim florido
banido pela maré;

fica tão dentro, tão minha,
tão fundo no coração,
esta saudade que aninha
numa perdida canção:

essa que vai pelo vento
numa esperança que mora
num oculto firmamento,
nalgum recanto da aurora.

Canção que jamais termina,
por entre os astros navega,
miragem que me cativa,
que apenas sonhos me lega.

AMAR COM O PENSAMENTO

Amar com o pensamento,
te olhar sem dizer mais nada,
com a consciência embriagada
de tão sublime tormento.

Esta corrente de agora
não é mais pena de ausência,
mas a querida existência
da minha amada captora.

Preso assim quero ficar,
dos beijos da tua boca, 
desse arrepio que provoca
a gloria do teu olhar.

Que importa que chegue o fim,
que o meu coração desabe,
se antes de que tudo acabe
vives já dentro de mim!

NESTE PÔR DO SOL

Neste pôr do sol
meu bem vai chegando;
por ela minh'alma
vive suspirando.

Neste pôr do sol
meu bem já passou,
passou a alegria
que nunca voltou.

Saudoso eu tornei
ao mesmo lugar
por se alguma vez
voltasse a passar.

Ela não voltou,
nem aqueles dias,
plenos de luar,
cheios de alegrias.

AMOR IMAGINADO

Viver na irrealidade de te amar,
Assim, neste prazer imaginado;
Sabendo-me cativo desse fado
Que boia pelas ondas do luar:

Te busco nos meus sonhos, pelo mar,
Te busco no futuro e no passado,
Te busco por um céu imaculado
E num maravilhoso e doce lar.

São águas que lá vão por este rio
Os sonhos que gerou minha ilusão;
Regando elas estão pela ribeira

As flores já molhadas da paixão,
Os lábios da tua boca que se abriu
Aos beijos deste amor, desta fogueira!!

EXISTEM MOMENTOS

Existem momentos
de imensa poesia,
gratos firmamentos,
nuvens de alegria.

Por vezes na vida
a paixão triunfou
e n'alma esquecida
a dita morou.

Pode ser que agora
um subtil encanto
alente o amor,

e a rosa que aflora
se faça portanto
a mais bela flor.

CARTA, POEMA E CANÇÃO

Recebi do meu Amor
uma carta perfumada;
ambas têm cheiro de flor,
a carta e a minha amada.

Determino responder
com um poema rendido,
porque um amor como o seu
jamais o tinha vivido.

Logo me replica ela
com una linda canção,
tão adorável e bela
que toma o meu coração.

E assim tão apaixonado
fico a escrever novamente,
não fica o lápis parado
daquele que muito sente:

“Não existe bem maior
nem anelo mais querido
que sonhar com teu amor,
que imaginar-te comigo”.

NADA MORRE

Esse meu passado ainda não morreu,
todas as lembranças ficaram ao léu,

qual uma canção que vai pelo vento
do fugaz encanto e do sentimento,

qual se fossem notas dum hino imortal
quando já as saudades não são mais punhal,

quando os tempos todos são da mesma essência,
de eterno mistério, de muda eloquência.

BREVES

A terra
aguarda amorosa
o beijo da chuva.

***

Essa música imortal
me arrasta
mesmo sem me mover.

***

Imaginar-te é ver
toda a beleza
dos sonhos.

*** 

Não digas nada,
sente comigo
como te desejo.

***

Da-me a tua mão
enquanto miro o teu perfil,
quero morrer assim!

VIAGEM

Num afastado planeta
Há de morar meu legado,
Esse da dita incompleta
E do caminho truncado.

Para que serve pensar
Em imaginadas vidas
Se quando o vento soprar
Ficam todas esquecidas?

Vou pois então navegar
Até outro mundo distante,
Para poder encontrar
O teu querido semblante:

Esse de alma encantada
Que o meu coração anela,
Essa visão tão sonhada
Que mora na minha estrela!

SE VERDADE FOSSE

Ai, ai, se verdade fosse
que àquelas folhas caídas
o encanto dos meus versos
as tornasse verdecidas!

Ai, ai, se verdade fosse
que o tempo é pura ilusão,
que todo amor é possível
quando fala o coração!

Ai, ai, se verdade fosse
que do sonho brote a flor,
das estrelas, as palavras,
e de te olhar, meu amor!

BAIRRO DAS MINHAS LEMBRANÇAS

Oh bairro das minhas lembranças,
que foi de mim, que foi de ti!
Aqui ficam as ruas, ficam as casas,
e a cor do céu que eu dantes sempre vi.

A cor feliz daquele lar primeiro
enchendo meus momentos de alegria,
e aquele amor sonhado e verdadeiro
pela bela mocinha que eu queria.

Ficando tudo aquilo tão distante,
a barca do meu sonho naufragou,
e a luz daquela estrela cintilante
o vento das desgraças apagou.

Meu bairro fica aqui, com a lembrança;
dele faz muito tempo que parti,
e fica na saudade esta fragrância 
daquele mundo amado que perdi.

CEGO DE NASCENÇA

Ele é cego de nascença:
este Amor que já me invade,
por vezes desejo ardente,
por vezes pura saudade.

Ele está dentro de mim,
dançando na noite escura,
ele não precisa ver,
ele é luz, ele é tortura.

O seu fado misterioso
leva meu sonho, minh'alma,
por um mar embravecido,
por um lago em noite calma.

Anseio de entrar em ti,
alma elevada na altura,
olhos absortos de gozo,
vento de imensa ternura.

Ele é cego de nascença
e fere com a poesia,
colocou luz nos teus olhos
sem saber que eu morreria.

ANTE O RETRATO DA MINHA MÃE

Não há estrelas em todos os firmamentos
como os dentes da tua boca,
brancos entre o sorriso dos teus lábios.

Não há luar tão profundo
como a luz dos dos teus benditos olhos,
nem ondas tão altivas
como as dos teus sagrados cabelos.

E essas brancas mãos,
feitas para o meu sustento e alegria,
que aguardam por mim na eternidade!

AMOR IMPOSSÍVEL

Quero te amar e não posso;
adoro a palavra tua,
o teu olhar infinito
que tem compassos de Lua.

Quisera dizer “te amo”,
más é impossível fazê-lo,
ficam mudas as palavras
e frustrado o seu anelo.

Morro por beijar tua boca,
teus lábios cor de carmim,
por me perder nos teus olhos,
e por amar-te até o fim.

Mas é só meu pensamento
quem vai sempre trás de ti,
por entre os mágicos sonhos
dum livro que nunca li.

Assim sem saber mais nada,
esta paixão tão sentida
vibra nas cordas da alma,
na canção da minha vida.

SONHEI COM O LAR PERDIDO

De noite e iluminada é como eu via
Com profusão a sala que sonhei,
Aquela em que feliz eu me sentia,
Aquela do meu lar que tanto amei.

Sonhei com esse lar que tive outrora
Composto de paredes e de portas,
Janelas ao poente e para a aurora
E aquelas ilusões que julguei mortas.

Assim que abandonando o que fazia,
Correndo ao velho lar foi que parti,
Mas antes de chegar eu pressentia

Que já ninguém morava mais ali:
A sala familiar está vazia!
A sala desse lar que eu já perdi!

BRILHAM NO SEIO DO MAR

Brilham no seio do mar
lembranças do lar querido,
daquele mundo perdido
que não pode mais voltar.
Não quisera mais ficar
prisioneiro do passado,
pois muito me há torturado,
tanto como hei sublimado
no altar de tamanha ausência
a possível existência
dum outro possível fado.

FOLHAS MORTAS

Folhas mortas.
São como lágrimas caindo,
No outono.
Algumas, uma ilusão, uma esperança...
Outras: 
Apenas saudades.

VENTO NOTURNO

Este vento noturno
afaga o corpo e a alma,
bate no meu rosto o seu perfume
de chuva, de folhas, de erva,
e bate na alma com renovada saudade.

Este vento é de paz e de esperança,
é frescor na noite de estio,
é a dita que se vislumbra na distância,
é o porto há tanto tempo deixado
e entre lágrimas ansiado.

Este vento é o começo e o fim duma viagem
por entre a luz e a cerração.

Este vento aviva a alma com o fogo do regresso
e o sonho da tua presença,
a despeito da dor,
da infinita dor da tua ausência.

EU TE AMO

Eu te amo
com este amor dolorido,
com este medo tão grande
de não ser correspondido.

Te amo com esse jeito
de quem perdeu a razão,
de quem o fogo dum sonho
arde no seu coração.

Te amo com a loucura
daquele que em nada pensa,
salvo na amada ilusão
da tua querida presença.

Te amo mesmo que a vida
este meu sonho me apague
e fique apenas de ele
uma infinita saudade!!

ATÉ ESTA LONGA PRAIA CHEGA O MAR

Até esta longa praia chega o mar,
repleto de saudades e lembranças, 
e as ondas executam velhas danças 
do tempo em que viver era gozar. 

Enquanto ando perdido a procurar 
as taças já bebidas de esperanças, 
evoco sem querer velhas andanças 
do tempo em que viver era sonhar. 

E a lua que sobre as águas já se abate
é o mais bem apurado simbolismo 
do eterno coração que sempre bate 

e eclipsa o astro cego desta dor, 
para que atravessando o grande abismo 
retome assim da vida o seu dulçor.

OLHANDO O TEU RETRATO

Olhando o teu retrato, oh meu Amor,
Sinto saudades do que nunca tive,
Qual ilusão fugaz que n'alma vive
E atravessasse o luto desta dor.

Da dor que tanto fere, tão inteira,
Deste degredo vil e permanente,
Onde a alma chora tanto porque sente
Que desta desventura é prisioneira.

Desventura daquele que perdeu
O seu legado rico e luminoso,
De anelos e de sonhos tão frondoso:
Seu mundo tão amado que morreu!

FUMAÇA

Fumaça dessa aurora que eu senti,
fumaça que se esvai por esses montes;
daqueles rubros tempos que eu vivi,
fumaça pelos vastos horizontes.

Fumaça que ficou do acontecido,
fumaça que solapa o meu pesar,
fumaça que é miragem do vivido,
daquilo que não pode mais voltar.

Fumaça que afinal o tempo leva
levando os meus suspiros pelo ar,
que oculta dos meus olhos tanta treva
e dança no meu triste despertar.

MOCIDADE

O vento da triunfante mocidade
ao sonho desta vida faz vibrar
com glória e com portento.
O gesto tão gentil daquela idade
encanta com poentes pelo mar,
liberta do pesar, do sofrimento,

e arrasta os mais furiosos vendavais
que avivam nossa dita,
para de novos mundos nos mostrar
as mágicas esferas celestiais
e a luz bendita
das ondas misteriosas do luar.

MEMÓRIA

Uma linda melodia
perfuma com seu relato
este luar de saudades,
este tão velho retrato.

Uma canção que se ouve
pelo mar do sentimento,
como uma lágrima à toa
é levada pelo vento.

Uma forte tempestade
dentro do meu coração
levanta as ondas dormidas
duma perdida paixão.

Lá do fundo da memória
ascende um eco imortal,
daquela estrela vibrante...
deste destino fatal. 

BANDIDO

Me encontrei com um bandido
que assaltava pela serra,
e fugido da sua terra
porque era perseguido.
Nunca tivera querido
exercer tal profissão
mas nublou a sua razão
o exemplo de um governo
que ao pobre manda ao inferno
e dignifica ao ladrão.

SANTO NO BORDEL

Olá a todos!

Sou uma talha em madeira
de São João Batista.

Foi a madama do bordel onde habito
quem me comprou na loja de antiguidades.

Cheguei ao meu novo lar
ataviado de parca vestimenta.

Apenas o imprescindível
para cobrir as minhas vergonhas
enquanto batizava lá no Jordão.

Uma das moças
fez para mim uma túnica de seda
bordada com fios dourados.

Presidindo o meu oratório
pareço o governador da Galileia.

Em minha honra as flores
renovam-se diariamente,
e as velas perfumadas.

Estas gratas senhoritas falam comigo
e me consideram seu amigo e confidente.

Mas ai Senhor!
ando perdido entre nádegas tão brancas,
seios de ébano, coxas de bronze...

Que pena ser só de madeira!!

O QUE SENTE O BEIJA-FLOR?

Meus anelos já passaram
e as ilusões também;
mas algo estranho sucede,
algo que volta a nascer?

A vida que imaginara,
a que em sonhos pude ter,
me persegue a toda hora
como o faz o cão fiel;

quer deixar de ser um sonho,
quer na terra florescer;
não sabe como fazê-lo,
como fazê-lo eu não sei,

também não sei o que sente
esse lindo beija-flor,
se ele anseia uma outra vida,
se ele é feliz ou se não?

CUIDADO AO TRAVESSAR ESSAS RUAS

Um jovem houve uma vez
que pela sua Rosalinda
era capaz de morrer
pois era moça bem linda.

E pensando sempre nela
de mal de amor padecia,
pelo que moço, coitado,
de noite já nem dormia,

Assim de tanto velar
andava quase dormido,
e sem rumo pela rua
ia sempre distraído.

Aconteceu pois, então,
ao cruzar a rua do Conde,
que ele foi atropelado
sem remédio por um bonde.

Como o tal moço era crente,
educado e tão bonzinho,
foi pra o Céu diretamente,
sem demora, rapidinho.

Mas até no assento Etéreo,
onde ele mora,
sente saudades da amada
a toda hora.

UMA LINDA MELODIA

Uma linda melodia
perfuma com seu relato,
este luar de saudades,
este tão velho retrato.

Uma canção que se ouve
pelo mar do sentimento,
como uma lágrima à toa
é levada pelo vento.

Uma forte tempestade
dentro do meu coração
levanta as ondas dormidas
duma perdida paixão.

Pelos ares da memória
e sem que exista motivo
transita o eco fatal
do que não tem mais olvido.

ABSORTO ANTE O AMOR

Absorto ante o amor
permaneço admirado
do viço esplendoroso dessa flor,
do signo misterioso do seu fado.

É luz que purifica,
canção que faz vibrar o sentimento,
incenso que perfuma e se dissipa
por toda a imensidão do firmamento;

vibrar perante a luz da bem amada,
encanto no sentir,
pisar por uma terra imaculada.

Amar é pois fluir
na música imortal duma balada
que deste mundo vil nos faz fugir.

NÃO TENHO GUARDA-CHUVA

Cadê a vida
que eu imaginei viver?

Anda tudo tão perdido:
aquela tão tersa pele,
aquele meu olhar sem medos,
aquele encanto, aquela magia!

Agora preciso ir ao banheiro
com mais frequência.
A próstata, talvez.

Cadê a vida
que eu imaginei viver?

Onde está ela agora?

Decidi dar um passeio
por algum recanto entranhável, evocador,
numa tentativa de matar saudades,
mas nesse instante começou a chover
e não tenho guarda-chuva.

VÊM DO NORTE, VÊM DO SUL

Vêm do norte, vêm do sul,
as aves sulcando os céus,
atravessando montanhas,
altas cumes, calmos rios,
planícies, desfiladeiros
e as ondas do imenso mar.

Vêm do norte, vêm do sul;
elas são irmãs do vento,
que as sustenta, quando passam,
nesse mágico momento.

Vêm do norte, vêm do sul,
as lembranças, os suspiros,
daqueles ventos perdidos.

O QUE SERÁ DE MIM

O que será de mim importa nada,
sentir o teu amor é meu pressente;
a vida dura pouco e acabada,
acaba o coração que tanto sente,
o anelo e a ilusão arrebatada,
o sonho luminoso e surpreendente;
por isso peço aos céus e peço ao fado
partir depois de muito ter amado.

SERÁ...

Será este amor sonhado quem por fim
dê luz ao eco triste dos meus passos;
podendo-te estreitar entre os meus braços
por entre o arvoredo dum jardim.

Será o leve perfume do jasmim
que flui com esplendor pelos espaços,
aquele que arrebate os meus cansaços
e torne tanta espera num festim.

Será tudo ilusão e fantasia,
o fim definitivo desta dor,
o sol que há de brilhar com alegria,

de grandes ilusões o criador,
mais este afã de ti que nunca esfria,
o triunfo inevitável deste amor.

AMOR PLATÔNICO

Buscar o teu olhar que me fascina:
verdade tão imensa e céu tão puro;
amor que tanto anseio e que procuro
qual busca um cego o dom da luz divina.

Sentir que é uma quimera peregrina,
andar detrás de ti num céu obscuro,
saber que nos separa um alto muro,
que apenas é um amor que se imagina.

Teu nome de mocinha, tão amada,
ecoa como voz que eu pressentia
ser canto de paixão idolatrada.

Teu ser que é de ilusão e fantasia,
de boca carmesim tão anelada,
transcende ao vasto mar e até à poesia.

SONHO

Meu sonho não se cansa de sonhar-te.
Aquele olhar sagrado e tão fiel
é a luz desta Saudade tão cruel,
Saudade que não cessa de chamar-te.

Te busco, te procuro em toda parte,
evoco enfim o teu dulçor de mel,
porem o empenho amargue como o fel
de andar eu trás de ti sem encontrar-te,

e ver trás do cristal desta agonia
que o vendaval da morte arrasta e leva
aquele amor radiante que eu sentia,

o sonho que me fez estremecer,
o vivo resplendor dessa alegria
que nunca, nunca mais há de volver.

FALANDO ESTOU DE TI

Falando estou de ti a essas tão belas
montanhas batizadas de luar,
a tudo o resplendor dessas estrelas
que mostram meu sentir e meu sonhar.

Falando estou de ti e fico triste
ao relembrar os gozos fenecidos,
o puro amor por ti que tu já viste,
as cinzas dos meus sonhos mais queridos.

Falando estou de ti e agora eu sinto
aberto o céu da dita e do esplendor,
momentos dum outrora não extinto,

as pétalas vermelhas duma flor,
e o mundo tão ditoso e tão distinto
nascido da paixão daquele amor.

COMO A ROSA

Que fortuna tão distante,
que o pensamento imagina
luminosa.
Que esplendor tão rutilante,
daquela ilusão divina,
misteriosa.

Quanto andar, quanta fadiga,
quanta pena e sofrimento
que tortura.
Este evocar que fustiga,
a inclemência deste vento,
tão segura.

E esta vida que já é nada,
mas que noutro tempo fora
tão ditosa;
sem fragrância e desfolhada,
sente saudades e chora
como a rosa.

CANÇÃO

Aquela canção amada
tinha fragrâncias de flor.
Hoje apenas sinto dor
pois quem canta é o bem amado
mundo que foi desterrado
pra sempre da minha vida,
causando-me esta ferida
que é já um contínuo penar,
pois não paro de sonhar
com essa canção perdida. 

ALMA CATIVA

Amores aqueles, que foram um dia
luz esplendorosa,
e aquela quimera que alegre crescia,
firme e vigorosa.

Perfume tão novo mais ritmo triunfal
que tudo inundava,
enquanto que a dita, suspiro vital,
por meu tempo errava.

Que foi desse mundo que amava assim tanto,
de voz encantada?
Matou-o o destino, deixou-me este pranto,
fiquei sem mais nada!

E a luz misteriosa que chega da lua,
a minha alma invade,
a inunda de sonhos, e assim continua
cheia de saudade.

MOCIDADE

O vento da triunfante mocidade
ao sonho desta vida faz triunfar
com gloria e com portento.
O gesto tão gentil daquela idade
encanta com poentes pelo mar,
liberta do pesar, do sofrimento,

e arrasta os mais furiosos vendavais
que avivam nossa dita,
para de novos tempos nos mostrar
as mágicas esferas celestiais
e a luz bendita
das ondas misteriosas do luar.

MEU DEUS, TIRA-ME DA ALMA ESTES TORMENTOS

Meu Deus, tira-me da alma estes tormentos,
Tortura de estar vendo quão distantes
Ficaram tão perdidos os momentos,
Aqueles de esplendores rutilantes,

Aqueles que assombrado eu recebia,
Os mesmo que de sonhos se geravam,
Que foram tão de gozo e alegria,
Aqueles que outros mundos me mostravam.

A flor é cinza já, mas seu aroma
Ficou num céu azul de irrealidade,
Arcano misterioso noutro idioma
Da minha tão amada mocidade.

Beijando vão florestas primordiais
Fragrâncias que se julgam imortais.

O BRILHO DA PAIXÃO

Nada há que nos impeça ver tão claro
o que este mundo vil nos oferece,
onde toda ilusão por fim fenece,
assim com o desejo mais amado.

Mas morto vive quem ensimesmado,
alheio a toda dita permanece,
pois nada já em seu mundo reverdece
e traz só desprazer o relembrado.

Se presto quanto vive há de morrer,
que parta para tal lugar ignoto
levando vivo o gênio e o sentir,

o brilho da paixão e da ventura,
o sonho de encontrar-te e conseguir
aquilo que não tem mais sepultura.

MEMÓRIA

Uma linda melodia
perfuma com seu relato,
este luar de saudades,
este tão velho retrato.

Uma canção que se ouve
pelo mar do sentimento,
como uma lágrima à toa
é levada pelo vento.

Uma forte tempestade
dentro do meu coração
levanta as ondas dormidas
duma perdida paixão.

Lá do fundo da memoria
ascende um eco imortal,
daquela estrela vibrante,
deste destino fatal.

NOSSO AMOR PODE MORRER

Nosso amor pode morrer
numa noite sem luar,
antes de que o sol chegar
para tudo renascer.
Pode então acontecer
que esta tão grande paixão,
que este amar com efusão,
fique apenas no passado,
o coração torturado 
e os olhos chorando em vão.

ENGANO

Matou-me a ruim soberba, aquele engano,
e o não saber querer ao ser querido;
por isso é que o meu canto arrependido,
desvela que isso foi para o meu dano.

Não sei como é que obrei como um leviano:
um ente da razão despossuído.
Tomado por afã tão sem sentido
não tive mais final que o desengano.

Assim que ao evocar aquele outrora,
o faz com grande pena um coração
onde uma imensa dor aninha e mora,

e não sabe entender por que razão,
esse vento fatal que tanto açora
fizera naufragar meu coração.

CANÇÃO

Essa canção tão amada
chega até o meu coração
com grande dor e emoção.
Quem canta é agora a evocada
vida, que foi afastada
do meu sonho e do meu céu,
por aquele negro véu
que hoje é contínuo penar,
dilacera sem parar
por tudo quanto morreu.

SOL NUNCA ESQUECIDO

Reflecte o esplendor de um astro amado
a lua com seu brilhar e sua quimera;
parece resgatar a primavera,
a brisa de um amor recém-chegado.

Parece recobrar esse legado
de um sol cujo calor fundiu a neve,
com raios de ilusão e instante breve,
que torna com fulgor ressuscitado.

Bem sei que esse clarão é bem querido;
florescem idos gozos que eu sentia
nos raios desse sol nunca esquecido.

Sonhemos, seja apenas um momento,
com essa luz que outrora possuía
aquele bem amado firmamento.

TRISTE EVOCAÇÃO

Sem saber bem a razão
e pela sina arrastado,
vai ficando o coração
com o seu sonho acabado.

Os anos vão-se passando;
tu, cada vez mais distante,
e a minha alma evocando
detalhes do teu semblante.

O meu ser aprisionado
por saudades tão sentidas,
lembra um outono calado,
são essa folhas caídas.

Tão prostrados e vencidos,
nesse triste entardecer
floresceram os olvidos
de tão sublime querer

Houve um tempo apaixonado,
uma estrela lá no céu,
um delírio consumado
um amor que já morreu.

BEIJA-FLOR

O beija-flor que libava
desse néctar celestial,
tão contente nem pensava
na sua dita sem igual.

Também não imaginava,
coitado, para o seu mal,
que tudo quanto gozava
seria a sua sina fatal:

a saudade do perdido,
do que nunca tornará,
daquele libar querido,

daquele néctar de outrora,
daquele amor tão sentido
que já nunca mais aflora.

VENTO

Sinto uma dor tão profunda
que dentro de mim habita,
por não achar as palavras
que exprimam minha desdita.

Essas tão simples palavras
com que eu pudesse contar
uma ausência milenária,
tão profunda como o mar.

Essas palavras tão simples
com que eu pudesse cantar
quanto a alma se estremece
quando não pode voar,

quando sente que a sua essência
toma caminhos incertos,
e transcorrem suas jornadas
evocando esses momentos

em que o vento da fortuna
soprava com ousadia;
quando nem imaginara
daquele vento, a valia.

RESSURREIÇÃO 

Até esta longa praia chega o mar, 
repleto de saudades e lembranças, 
e as ondas executam velhas danças 
do tempo em que viver era gozar. 

Enquanto ando perdido a procurar 
as taças já bebidas de esperanças, 
evoco então talvez velhas andanças 
do tempo em que viver era sonhar. 

E a lua que sobre as águas já se abate, 
desvela o misterioso simbolismo 
do eterno coração que sempre bate 

e eclipsa o astro cego desta dor, 
para que atravessando o grande abismo 
retome assim da vida o seu dulçor.

SOL NUNCA ESQUECIDO

Reflecte o esplendor de um astro amado,
a lua com seu brilhar e sua quimera;
parece resgatar a primavera,
a brisa de um amor recém-chegado.

Parece recobrar esse legado
de um sol cujo calor fundiu a neve,
com raios de ilusão e instante breve,
que torna com fulgor ressuscitado.

Bem sei que esse clarão é bem querido:
florescem idos gozos que eu sentia
nos raios desse sol nunca esquecido.

Sonhemos, seja apenas um momento,
com essa luz que outrora possuía
o nosso bem amado firmamento.

NATURA MAL OBROU

Grande erro da criação, o ser humano;
A tão absurda trama da sua essência,
Repleta de tolice, de incoerência,
Que causa tanto horror e tanto dano.

Por muito que tal coisa cause engano,
Criar um ser assim é incoerência,
Contraria ao bem fazer, a toda ciência:
Um ente que se julga sobre-humano!

Natura mal obrou com tal ação,
Deixando que passasse de primate
De certo algo falhou na evolução.

Pensando que gerava um ser de amor,
Por muito que pareça disparate,
O homem a maltrata sem pudor.

MUNDO INVENTADO

Meu ledo coração passa triunfante
Por esse mundo grato e tão amado,
Que para o meu prazer tenho criado
Duma visão sonhada e deslumbrante.

Lugar é de esplendor tão rutilante,
E nada com certeza lá anda errado,
Por isso sou feliz de tê-lo achado,
Morando mesmo dele tão distante.

Assim contente estou, e imaginando
Que tenho lá o meu lar e a minha vida;
E os lindos passarinhos vão cantando

Bem cedo a sua toada tão sentida,
Então é quando vou-me despertando
Do sonho dessa dita tão querida.

LUAR

Esta noite iluminada
vibra inteira de esplendores;
lembra um encanto de fada,
de um repuxo, os seus rumores.

Mansas ondas de luar,
dessa ilusão sedutora;
o seio da noite a arfar
numa branca flor de outrora.

Esse luar de outro mundo
que nunca se realizou,
salvo no seio fecundo
do peito que muito amou.

TORMENTOS

Meu Deus, tira-me da alma estes tormentos,
Tortura de estar vendo quão distantes
Ficaram tão perdidos os momentos,
Aqueles de esplendores rutilantes;

Aqueles que assombrado eu recebia
Os mesmo que de sonhos se geravam,
Que foram tão de gozo e alegria,
Aqueles que outros mundos me mostravam.

A flor é que murchou mas seu aroma
Ficou num céu azul de irrealidade,
Arcano misterioso noutro idioma
Da minha tão amada mocidade.

Beijando vão florestas primordiais
Fragrâncias que se julgam imortais.

VIAGEM

Existe um ser torturado
que não para de chorar,
por tantos males magoado,
não se pode consolar.

É uma sombra que perdura
doutro tempo que passou,
que padece a cruel tortura
dum sonho que se quebrou.

Fantasma de um tempo ido,
daquele lar que habitara,
daquele amor tão sentido,
dos momentos que ele amara.

Suas correntes são de magoa,
e a sua vida, sem ventura.
Tem os olhos rasos d'água
porque a saudade o tortura.

O coração arrancado,
a alma tão mutilada,
e o seu ser aprisionado
naquela vida passada.

A morte é que vai chegando,
seus sinos cantam agora,
e a sua alma vai viajando
aos paraísos de outrora.

AMOR IMPREVISTO

Boiar não quero mais nesta incerteza,
pois tudo neste mundo está marcado
pelo fado afinal e com certeza
não poderá durar o bem sonhado.

Pensar não quero mais em fantasias,
num sonho florescido e bem amado,
se as minhas tão escassas alegrias
são chuvas que lá vão pelo beirado.

Gozar quero do amor quando ele chega,
amando nesse instante com fé cega,
apenas ele pouse, de improviso.

Gozando dessa mão que assim me toca,
o amor que ela oferece e nada evoca
será meu bem amado paraíso.

SOU DE CINZA QUE FOGE

Sou mais um ente humano que pela vida passa,
Como passam os dias, como passam as horas;
Sou de cinza que foge, sou dispersa fumaça,
Sou um eco distante de dourados outroras.

Sou um ente vencido que perdeu a ilusão,
Que nos versos escreve como foi que sumiu 
A esperança sentida pelo seu coração,
Essa música amada que já não mais se ouviu.

Sou um ente que mora na fronteira do sonho,
Que cansado e sem força a cabeça reclino
Na implacável certeza dum final tão medonho.

Nada mais eu espero nem desejo lutar,
Sou as cordas quebradas dum quebrado violino
Pois meu sonho mais belo já não pode voltar.

ONDE QUER

Onde quer que eu esteja vão-se abrindo
as flores dum amor tão deslumbrante,
quão canta alegre a água do repuxo
que brota num jardim alucinante.

Onde quer que esta vida me dirija,
marcada pela dor vai minha sorte,
aberta está a ferida irremediável
que só se fechará com minha morte.

LANÇADO AO INFINITO

Lançado ao Infinito
trás de um grande Ideal,
o anseio me ocultava
o risco do meu afã.

Finalmente caído
na lama eu ficara,
meu gesto arrependido,
minhas asas quebradas.

Apenas conservei
um triste sentimento,
uma ilusão perdida,
varrida pelo vento.

MORRE O SOL E MORRE A LUA

Com certeza é que esta vida,
Que é de luz e de paixão,
De tantas dores enchida
E de tanto orgulho vão,

Como o Sol há de morrer;
Como este sol que fecunda
Tanto anseio de viver,
Tanta esperança profunda.

Nascem e morrem os dias
Nas vielas da cidade,
Naufragam as alegrias
E vai ficando a Saudade!

Oh, luar imaculado:
Lágrimas que chora a Lua!
Morrer sabe que é seu fado,
É também a sorte sua!

A CHUVA CAI

Cai devagar e comove:
vida deste chão sedento,
até parece que chove
por obra de encantamento.

A chuva desce trazendo
uma fragrância sonhada,
o rumor de estar vivendo
uma paixão muito amada.

A ramagem gotejante
evoca meu lar de outrora,
onde brilhou fascinante
aquela chuva de aurora.

Toda essa fronde lavada
vibra ao compasso do vento,
e uma fragrância anelada
perfuma o meu pensamento.

FUMAÇA

Fumaça dessa aurora que eu senti,
fumaça que se esvai por esses montes;
daqueles rubros tempos que eu vivi,
fumaça pelos vastos horizontes.

Fumaça que ficou do acontecido,
fumaça que neblina o meu pensar,
fumaça que é miragem do vivido,
daquilo que não pode mais voltar.

Fumaça que afinal o tempo leva,
levando os meus suspiros pelo ar,
fumaça que os meus sonhos aconchega
e dança no meu triste despertar.

TEUS LÁBIOS QUE SUSSURRAM PRIMAVERAS

Teus lábios que sussurram primaveras
evocam uma terra prometida,
um sol que lá brilhou noutras esferas,
a glória duma música querida.

Luar que purifica
o mais doce suspiro;
de todas as palavras,
aquelas que eu prefiro.

Um astro rutilante e sonhador,
a brisa que perfuma o sentimento,
um grande olhar de gloria e resplendor
que brilha no meu absorto pensamento.

Clarão imaculado,
da treva rasgas os véus;
mistério dos teus olhos
que inunda os olhos meus!

BAIRRO DAS MINHAS LEMBRANÇAS

Bairro das minhas lembranças,
Que foi de mim, que foi de ti?…
Aqui ficam as ruas, ficam as casas,
A cor do céu que eu dantes sempre vi.

A cor do céu do lar primeiro,
Brilhando sem saudade e sem doer,
De um céu que era real e verdadeiro;
Da vida com vontade de a viver.

Ficando tudo aquilo no passado
A barca do meu sonho naufragou.
Anda o meu coração assim calado,
A chama de esperança se apagou.

Meu bairro fica aqui com as lembranças,
Dele faz muito tempo que eu parti,
E grandes são, tão grandes as distâncias
Daquilo que eu sonhei e do que vivi!…

NAMORADO FANTASMA

Houve noutro tempo um moço
Que muito se apaixonara
Duma jovem muito bela
Que neste mundo ele amara.

E pensando sempre nela
Nosso moço nem dormia,
Pelo que pobre, coitado,
Grande insônia padecia.

De tanto pensar na amada
Andava andava adormecido,
E sem rumo pela rua
Ia sempre distraído.

Era assim que o namorado
Ia sem saber por onde,
Foi por isso atropelado
Em São Paulo por um bonde.

Como o coitado era crente
Ao Céu rápido chegou,
E entre ajinhos sem sexo
Por um tempo lá morou.

Mas seu amor foi tão grande
Que a imagem da sua amada,
Mesmo no Reino Celeste,
Muito a ele o torturava.

Não duvidou nem um pouco,
Ele a ninguém consultou,
E de tão enamorado
Foi que do Céu escapou.

Em fantasma convertido
Pelo seu bairro ela vaga,
Soluçando os seus tormentos,
Sua fortuna tão aziaga.

A causante dos seus males
Nunca pôde imaginar
Que o lamento que ela ouvia,
Dum fantasma era o penar.

Aliás, como ela é viva,
É um ente terreal,
Procurou um namorado
Pra fazer o amor carnal.

E o nosso triste fantasma
Ficou todo consternado;
Ficou muito arrependido
De ter do Céu escapado.

Tão funesto e torturante,
Seu gemer incomodava,
Pois não deixava dormir
Ao povo que lá morava.

Mas quem ama sempre vence,
E uma noite num portão
Encontrou uma alma penada
E juntinhos sempre estão!!
  

MARÍA

  MARÍA introducción A mí siempre me ha gustado María. Cuando éramos jóvenes nunca se lo dije, ni siquiera una vez que bailó conmigo en un g...